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Percebe-se, infelizmente, que “[...] perdeu-se o significado profundo de autenticidade. Assim, muita gente acha quase impossível, em nosso tempo, compreender que Sócrates, no preceito ‘conhece-te a ti mesmo’, insistia no mais difícil de todos os desafios. E julga também quase impossível compreender a que Kierkegaard se referia ao proclamar: ‘Aventurar-se, no sentido mais elevado, é precisamente tomar consciência de si mesmo...’ ” (MAY, 1990. p. 47)
Albert Camus e Franz Kafka apresentam duas visões filosóficas distintas sobre a existência. Camus, discute em sua obra “O mito de Sísifo” e outras obras, sua concepção da vida como sendo absurda, defendendo que não há sentido para a existência; ainda que que possamos encontrar propósito quando encararmos sua irracionalidade será coragem e revolta diante do absurdo. Para Kafka, a vida tem o aspecto de constante luta contra forças incompreensíveis e opressoras que fazem com que indivíduos sejam esmagados numa burocracia e acabem alienados. Para os dois, portanto, há uma tensão entre buscar sentido da vida num mundo definido e reconhecidamente caótico e a impotência humana diante da existência.
Em oposição aos dois há outros bem mais “otimistas” quando o assunto é “existencialismo”, “sentido da vida”; por exemplo: Viktor Frankl; Kierkegaard; Karl Jaspers; Rollo May, entre outros.
Assim, partindo dos autores das obras citadas acima e revisitando a obra de Tolstoi: "A morte de Ivan Ilitch" e as de Viktor Frankl sobre o "sentido da vida" anoto mais uma das boas, necessárias e fundamentais reflexões que faço sobre as consequências que devem ser pensadas por quem escreve; sobre a busca de sentido; “locus of control”, autocontrole e reeducação visando até os exercícios rotineiros na “cura das paixões”.
“O homem procura sempre um significado para a sua vida. Ele está sempre movendo-se em busca de sentido de seu viver; em outras palavras, devemos considerar aquilo que chamo de ‘vontade de sentido’ como um interesse primário do homem [...]” (2005, p. 29)
Quanto ao “sentido da vida”, por exemplo, a maneira peculiar com que Viktor E. Frankl (1905 – 1997), investigou a questão do "sentido" ultrapassa em grande medida, uma mera especulação; pelo contrário: é possível extrair de sua posição uma boa reflexão filosófica. Parte do problema expresso pelo “sentimento de vazio de sentido” que leva as pessoas a procurar o psicólogo e o psiquiatra; um “vazio existencial” e a “depressão”, há muito discutidas nas áreas de saúde, e que apresentam-se, cada vez mais como “doenças do século XXI”; ponto alto da investigação de Frankl em seu livro. O fato de o homem, na maioria das vezes, não saber o que quer deveria, segundo ele, servir para que tal ignorância a respeito de tal "sentido" fosse substituída por uma profunda reflexão sobre a Vida.
“Da confusão nascia o sentimento de falta de sentido da vida. A compensação financeira ou, dentro de certos limites, a segurança social não basta. O homem não vive apenas de bem-estar material” (FRANKL, 2005, p. 23)
Ou seja, a discussão “terapêutica” de Frankl coloca o problema da “busca de sentido” como um tema de fundamental interesse humano, não somente como reflexão que aumente o sentido da existência mas como algo segundo o qual seria impossível viver sem. Buscar sentido em Viver constitui, portanto, para Frankl, a questão existencial primeira. Dado que é um sobrevivente de “campos de concentração” torna-se mais intenso o que ele pretende com a sua proposta: quase que num sentido kantiano de que viver é um dever. A busca pelo sentido, portanto, é imprescindível: viver bem.
Nesse texto faço uma reflexão em perspectivas diversas, como se vê facilmente e, considerando o em que devemos nos concentrar verdadeiramente quando a questão é o “sentido da Vida”. Aqui , os autores citados são o foco, mas há muitos outros nessa perspectiva.
Viktor Frankl e seu excelente critério para se pensar a saúde mental e suas reflexões sobre o "Sentido da vida" daí advindos. Não é justificável apontar fatos externos como o grande problema, uma reorientação na busca de sentido pessoal da Vida é fundamental.
“Por mais que se justifique que o escritor possa partilhar com o leitor seu senso de futilidade, é um cinismo irresponsável proclamar o absurdo da existência. Se o escritor não for capaz de imunizar o leitor contra o desespero, deveria ao menos abster-se de inoculá-lo. (FRANKL, 2005, p. 94)"
E ademais, Allan Kardec, pensador francês do século XIX, também bastante citado aqui neste blog quando a questão é "autoconhecimento", sobre as consequências de se aventurar escrevendo ou apontando os “males” do ser humano ou da sociedade em geral, propõe como fundamental e urgente, uma reorientação na busca de sentido pessoal da Vida (LE 919). Fugindo de acusações que apontam para fora, a origem da nossa má saúde mental.
"[904] Incorrerá em culpa aquele que sonda as chagas da sociedade e as expõe em público?
“Depende do sentimento que o mova. Se o escritor apenas visa produzir escândalo, não faz mais do que proporcionar a si mesmo um gozo pessoal, apresentando quadros que constituem antes mau do que bom exemplo. O Espírito aprecia isso, mas pode vir a ser punido por essa espécie de prazer que encontra em revelar o mal.”
a) — Como, em tal caso, julgar da pureza das intenções e da sinceridade do escritor?
“Nem sempre há nisso utilidade. Se ele escrever boas coisas, aproveitai-as. Se proceder mal, é uma questão de consciência que lhe diz respeito, exclusivamente. Ademais, se o escritor tem empenho em provar a sua sinceridade, apoie o que disser nos exemplos que dê.”
Há sempre liberdade, mas:
"Liberdade ameaça degenerar em arbitrariedade se não for contrabalanceada pela responsabilidade” (FRANKL, 2005, p. 95)
Então, enquanto relia, numa das pausas na oficina, mais uma das obras de Viktor Frankl, anotei estas reflexões como exercícios a serem acrescidos a posteriores reflexões:
“Por mais que se justifique que o escritor possa partilhar com o leitor seu senso de futilidade, é um cinismo irresponsável proclamar o absurdo da existência. Se o escritor não for capaz de imunizar o leitor contra o desespero, deveria ao menos abster-se de inoculá-lo.” (FRANKL, 2005, p. 94)
Um exemplo que ele apresenta:
“A morte de Ivan Ilitch”, do Léon Tolstoy, em que um homem de sessenta anos descobre ter poucos dias de vida. Quando passa em revista sua vida e percebe quão vazia foi; o que faz?
“Ivan Ilitch via que estava morrendo, e o desespero não o largava mais. Sabia, no fundo da alma, que estava morrendo, mas não só não se acostumara a isto, como simplesmente não o compreendia, não podia de modo algum compreendê-lo.
O exemplo do silogismo que ele aprendera na Lógica de Kiesewetter: Caio é um homem, os homens são mortais, logo Caio é mortal, parecera-lhe, durante toda a sua vida, correto somente em relação a Caio, mas de modo algum em relação a ele. Tratava-se de Caio-homem, um homem em geral, e neste caso era absolutamente justo; mas ele não era Caio, não era um homem em geral, sempre fora um ser completa e absolutamente distinto dos demais; ele era Vânia, com mamãe, com papai, com Mítia e Volódia, com os brinquedos, o cocheiro, a babá, depois com Kátienka, com todas as alegrias, tristezas e entusiasmos da infância, da juventude, da mocidade. Existiu porventura para Caio aquele cheiro da pequena bola de couro listada, de que Vânia gostara tanto?! Porventura Caio beijava daquela maneira a mão da mãe, acaso farfalhou para ele, daquela maneira, a seda das dobras do vestido da mãe? Fizera um dia tanto estardalhaço na Faculdade de Direito, por causa de uns pirojki? Estivera Caio assim apaixonado? E era capaz de conduzir assim uma sessão de tribunal?
E Caio é realmente mortal, e está certo que ele morra, mas quanto a mim, Vânia, Ivan Ilitch, com todos os meus sentimentos e ideias, aí o caso é bem outro. E não pode ser que eu tenha de morrer. Seria demasiadamente terrível.” (Tolstói, 2009)
Portanto, “[...] eleva-se acima de si mesmo, cresce para além de si e assim finalmente é capaz de retroativamente encher a própria vida com um sentido infinito.” (FRANKL, 2005, p. 95)
E, ainda hoje, também sobre um outro livro de Viktor E. Frankl propondo que se tenha um “para quê” à Liberdade, um sentido, como se vê abaixo na sinopse do livro:
“A análise existencial reformula, nas últimas décadas, todo o tratamento psicoterapêutico; na nova perspectiva em que visualiza o doente, o professor Viktor E. Frankl não pretende apenas libertá-lo de supostos "tabus" introjetados, mas fornecer à sua liberdade um "para quê", um sentido.
Desfaz assim o determinismo em que incide boa parte da cultura atual, realçando a necessidade de cultivar a liberdade, o caráter e o senso de responsabilidade como partes integrantes da saúde psíquica; supera o pansexualismo de origem freudiana, salientando que o prazer – assim como o poder – não preenche o "vácuo existencial" do indivíduo; elucida, enfim, o papel do espírito na captação dos valores objetivos, na abertura para a transcendência, sem a qual qualquer equilíbrio psíquico se reduz a uma palavra vã.
Este livro, pois, expõe as bases da Logoterapia. As considerações profundas que encerra, a sua originalidade, e até o estilo ameno, ágil e comovente do autor, que toca as fibras mais finas da poesia e da dialética sem perder o rigor científico, tornam-no imprescindível não apenas para os psiquiatras, mas para todos os médicos, pastores de almas, educadores e estudantes de psicologia. Não à toa, Carl Rogers classificou-o como "uma das mais importantes contribuições à psicologia publicadas nos últimos cinquenta anos".
E, enfim, são só anotações em oposição à visaão de que a vida é um “absurdo” em que adoto que há sim um Sentido para a Vida, sem ser um “revoltado”.
(Grifos e destaques meus)
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