segunda-feira, 29 de dezembro de 2025

REFLEXÃO MATINAL CCI: APONTAMENTOS SOBRE CRISTIANISMO PRIMITIVO NA GRÉCIA CLÁSSICA E NA IDADE MÉDIA

(IMAGENS: "Editora Madamu")

(Em andamento): PREPARANDO UM ESTUDO SOBRE ESTE TEMA

Aproveitando uma Pausa na Oficina:

Aproveitando para encerrar leituras interrompidas destes dois lançamentos recentes. Tenho em mãos, desde que saíram, a 2ª edição do “Herança grega dos filósofos medievais” (Miguel Spinelli, 2025). E, a 3ª edição revista e ampliada de "Idade Média: o nascimento do ocidente" (Hilário Franco Júnior, 2025). Os dois publicados pela Editora Madamu (SP).

______.

FRANCO JÚNIOR, Hilário. Idade Média: o nascimento do ocidente. 3. ed. revista e ampliada. São Paulo: Madamu, 2025

JAEGER, Werner. Paidéia: a formação do homem grego. 3. ed. São Paulo: Martins Fonte, 1995.

______. Cristianismo primitivo e a paidéia grega. Santo Anré, SP: Ed. Academia cristã, 2024.

SPINELLI, Miguel. Herança grega dos filósofos medievais. 2. ed. São Paulo: Madamu, 2025.

______. Cristianismo primitivo e educação filosófica. Curitiba, PR: CRV, 2025.


sábado, 27 de dezembro de 2025

MEDITAÇÃO VESPERTINA CLXI: EM BUSCA DE SI MESMO E SENTIDO


,(IMAGEM: "Pinterest")

dois objetivos tenho dedicado parte do meu tempo.

Primeiro, rotineiramente, aos estudos de sempre.

Segundo, para ser livre: "nada desejar" - exercício difícil - e seguir praticando a Moderação.

Disso tenho alcançado, "[...] primeiro, a resignação nas vicissitudes da vida." Habituando-me nos esforços em ver as coisas de "mais alto ", para onde quero caminhar, a vida terrena perde seus atrativos pueris, materialistas e com isso percebo que agindo assim "[...] o homem não se aflige tanto com as tribulações que a acompanham. Daí, mais coragem nas aflições, mais moderação nos desejos." (LE. Conclusão. VII. (edição francesa, s.d. dépôt légal 1985), depôt legal. 93. reimpressão (edição histórica), 2013).

LIÇÕES PARA HOJE: 

Segundo os estóicos, se a razão não segue a "Lei natural", ela se perde no caminho dos vícios e, com a desculpa de que viver é tarefa complexa, o homem, decide-se por desvios improdutivos e não a seguindo, tornam, a vida difícil, infeliz e distante das Virtudes. Quase que, com tal afastamento, criam uma “segunda natureza”, resultado de vida viciosa e indisciplinada.

Tenho aprendido e prossigo com a “meditação andando” (Hanh, 2000) por trilhas da “filosofia prática” tanto em Epicteto quanto em Sêneca, que uma das tarefas práticas da filosofia dos antigos e dos estoicos, é a busca por cultivar uma vida simples e sem apegos infundados ao que esteja lá fora, no mundo externo. Já é natural e fundamental o desprendimento, sem desprezo do que nos seja útil ao aprendizado.

E, como "[...] perdeu-se o significado profundo de autenticidade. Assim, muita gente acha quase impossível, em nosso tempo, compreender que Sócrates, no preceito ‘conhece-te a ti mesmo’, insistia no mais difícil de todos os desafios. E julga também quase impossível compreender a que Kierkegaard se referia ao proclamar: ‘Aventurar-se, no sentido mais elevado, é precisamente tomar consciência de si mesmo...’ ”  (MAY. 1990. p. 47)

"LE 919. Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?

“Um sábio da antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo.”

a) – Conhecemos toda a sabedoria desta máxima; porém a dificuldade está precisamente em cada um conhecer-se a si mesmo. Qual o meio de consegui-lo?

“Fazei o que eu fazia quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma. Aquele que, todas as noites, evocasse todas as ações que praticou durante o dia e inquirisse de si mesmo o bem ou o mal que fez, rogando a Deus e ao seu anjo guardião que o esclarecessem, grande força adquiriria para se aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria. Dirigi, pois, a vós mesmos perguntas, interrogai-vos sobre o que tendes feito e com que objetivo procedestes em tal ou tal circunstância, sobre se fizestes alguma coisa que, feita por outrem, censuraríeis, sobre se obrastes alguma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai ainda mais: “Se aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, teria que temer o olhar de alguém, ao entrar de novo no mundo dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado?” Examinai o que pudestes ter obrado contra Deus, depois contra o vosso próximo e, finalmente, contra vós mesmos. As respostas vos darão, ou o descanso para a vossa consciência, ou a indicação de um mal que precise ser curado.

“O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual. Mas, direis, como há de alguém julgar-se a si mesmo? Não está aí a ilusão do amor-próprio para atenuar as faltas e torná-las desculpáveis? O avarento se considera apenas econômico e previdente; o orgulhoso julga que em si só há dignidade. Isto é muito real, mas tendes um meio de verificação que não pode iludir-vos. Quando estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas ações, inquiri como a qualificaríeis, se praticada por outra pessoa. Se a censurais noutrem, não a podereis ter por legítima quando fordes o seu autor, pois que Deus não usa de duas medidas na aplicação de Sua justiça. Procurai também saber o que dela pensam os vossos semelhantes e não desprezeis a opinião dos vossos inimigos, porquanto esses nenhum interesse têm em mascarar a verdade, e Deus muitas vezes os coloca ao vosso lado como um espelho, a fim de que sejais advertidos com mais franqueza do que o faria um amigo. Perscrute, conseguintemente, a sua consciência aquele que se sinta possuído do desejo sério de melhorar-se, a fim de extirpar de si os maus pendores, como do seu jardim arranca as ervas daninhas. Faça o balanço de seu dia moral, como o comerciante faz o de suas perdas e seus lucros; e eu vos asseguro que a primeira operação será mais proveitosa do que a segunda. Se puder dizer que foi bom o seu dia, poderá dormir em paz e aguardar sem receio o despertar na outra vida.

“Formulai, pois, de vós para convosco, questões nítidas e precisas e não temais multiplicá-las. Justo é que se gastem alguns minutos para conquistar uma felicidade eterna. Não trabalhais todos os dias com o fito de juntar haveres que vos garantam repouso na velhice? Não constitui esse repouso o objeto de todos os vossos desejos, o fim que vos faz suportar fadigas e privações temporárias? Ora, que é esse descanso de alguns dias, turbado sempre pelas enfermidades do corpo, em comparação com o que espera o homem de bem? Não valerá este outro a pena de alguns esforços? Sei haver muitos que dizem ser positivo o presente e incerto o futuro. Ora, esta exatamente a ideia que estamos encarregados de eliminar do vosso íntimo, visto desejarmos fazer que compreendais esse futuro, de modo a não restar nenhuma dúvida em vossa alma. Por isso foi que primeiro chamamos a vossa atenção por meio de fenômenos capazes de ferir-vos os sentidos e que agora vos damos instruções, que cada um de vós se acha encarregado de espalhar. Com este objetivo é que ditamos O Livro dos Espíritos.”

Santo Agostinho.

Muitas faltas que cometemos nos passam despercebidas. Se, efetivamente, seguindo o conselho de Santo Agostinho, interrogássemos mais amiúde a nossa consciência, veríamos quantas vezes falimos sem que o suspeitemos, unicamente por não perscrutarmos a natureza e o móvel dos nossos atos.

A forma interrogativa tem alguma coisa de mais preciso do que as máximas, que muitas vezes deixamos de aplicar a nós mesmos. Aquela exige respostas categóricas, por um sim ou um não, que não abrem lugar para qualquer alternativa e que são outros tantos argumentos pessoais. E, pela soma que derem as respostas, poderemos computar a soma de bem ou de mal que existe em nós."

Itens relacionados

O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo XII — Da perfeição moral > As virtudes e os vícios. > 906

O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo XII — Da perfeição moral > As virtudes e os vícios.

Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1863 > Junho > Dissertações espíritas > Conhecer-se a si mesmo (Sociedade Espírita de Sens, 9 de março de 1863)

Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1868 > Outubro > Doutrina de Lao-Tseu - Filosofia Chinesa

Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1866 > Maio > Dissertações espíritas > O Espiritismo obriga.

______.

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______. Observações sobre o sentimento do Belo e do Sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. Lisboa: Edições 70, 2012.

______. O único argumento possível para uma demonstração da existência de Deus. Lisboa: INCM, 2004. 

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KING, C. Musonius Rufus: Lectures and Sayings. CreateSpace Independent Publishing Platform, 2011. 

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THOUREAU, Henry David. Andar a pé: um ritual interior de sabedoria e liberdade. Loures: Editora Alma dos livros, 2021. 

quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

A CRITICA DA RAZÃO PURA: SOBRE A LÓGICA GERAL E A LÓGICA TRANCENDENTAL (II)

Voltando a um tema... Desenvolvendo...

Tendo prosseguido com os estudos, ainda tentando escrever um pouco mais sobre a pesquisa, há sempre o necessário intervalo, uma pausa breve na oficina. E, além do muito apreço ao tema e muito à obra, voltei, pela manhã ao "Manual dos curso de Lógica geral" de Kant e ao tema da Segunda parte da “Doutrina transcendental dos elementos’:  “Lógica transcendental” (A50, B64 - A64,B88). 

Link: SOUZA, Luís Eduardo Ramos. Lógica Geral e Lógica Transcendental: as origens lógicas da Crítica da razão pura de Kant. Studia Kantiana, [S. l.], v. 23, n. 1, p. 7–27, 2025. DOI: 10.5380/sk.v23i1.96669. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/studiakantiana/article/view/96669. Acesso em: 25 dez. 2025.

Parti, portanto da obra "Manual dos curso de Lógica geral" e acrescentei hoje, o artigo acima: “Lógica Geral e Lógica Transcendental: as origens lógicas da Crítica da razão pura de Kant”, além da obra em si, de inestimável valor pessoal, da afirmação de Kant sobre a Lógica, desde Aristóteles, sobre a “Lógica”, desde Aristóteles não ter dado quase nenhum passo à frente nem para trás, dado que “o limite da Lógica acha-se determinado de maneira bem precisa, por ser ela uma ciência que expõe circunstanciadamente e prova de modo rigoroso unicamente as regras formais de todo o pensamento.” 

E, seria tal “limite”, a vantagem de seu sucesso como ciência. Claro é que tal afirmação já foi bastante contestada e embora me interesse muito, não vou me demorar sobre ela. Só vou começar a pensar a ideia de "limites" a partir da noção de "regras". Futuramente retorno à questão; após mais estudos e reflexões.

"Tudo na natureza (Natur), tanto no mundo inanimado quanto vivo, ocorre segundo regras (Regeln), embora nem sempre conheçamos essas regras de imediato - A água cai segundo as leis dos gravesm e o movimento da marcha entre os animais produz-se conforme regras. O peixe na água e o pássaro no ar movem-se segundo regras. A Natureza toda, em geral, nada mais é propriamente do que um nexo de fenômenos segundo regras e em parte alguma ocorrre ausência de Regras (Regellosigkeit). Quando pensamos tê-la encontrado, só podemos dizer que as regras nesse caso no são desconhecidas.

O exercício das nossas faculdades (Kräfte) também se faz segundo certas regras, que seguimos inicialmente, inconscientes delas, até que, mediante tentativas e um demorado uso de nossas faculdades, chegamos ao seu conhecimento, o que acaba nos colocando em tal familiaridade com elas que nos custa muita fadiga pensá-la in abstacto. Do mesmo modo a gramática geral (allgemeine Gramatik), por exemplo, é a forma (Form) de uma língua em geral. Mas falamos mesmo não conhecendo a gramática, e quem não a conhece e no entanto fala possui na verdade uma gramática e fala segundo regras de que não tem consciência, porém." (KANT, 2002, p. 25)

Enfim, das muitas voltas às obras básicas, no último fim de semana, na pausa dos trabalhos e pensando nos textos com prazos de entrega, retomei e prossigo com a leitura deste “manual de Lógica” de Immanuel  Kant, de quem tenho me dedicado a estudar a obra com calma, há algum tempo.

A princípio, precisei reler dois dos capítulos da obra. Menciono ainda, o detalhe de que o meu exemplar de estudos desse tema a partir desse autor, traz uma dedicatória a que, porventura, detive-me estoicamente, como já fiz por mais de 12 anos; desde 12 de maio de 2007...

Só em seguida pude dedicar-me aos meus intentos iniciais até o final.

De resto, sobre a obra: basicamente, esse “manual" de lógica tem como objetivo introduzir seu leitor, ou quem adentre o complexo e necessário universo da Filosofia.

De fundamental importância para compreensão da obra kantiana, uma excelente obra para, em  certa  medida, iniciar estudos sobre kantismo e uma introdução aos temas da Filosofia, inclusive traz um glossário com termos básicos para  auxílio na  leitura.

E, prosseguindo com as leituras...

______.

ARISTÓTELES. Categorias. São Paulo: Editora Unesp, 2019.

______. Metafísica. São Paulo: Ed. Loyola, 2002.

______. Órganon. Bauru (SP): Edipro, 2010.

BLANCHÉ, R. História da lógica de Aristóteles a Bertrand Russell. Lisboa: Ed. 70, 1985.

KANT, Immanuel. Manual dos cursos de lógica geral. 2. ed. Trad. Fausto Castilho. Campinas/SP: Editora da Unicamp, 2002.

______. KANT, I. Gesammelten Werken der Akademie Ausgabe aus den Bänden 1-23 (Elektronische Edition). Band III: Kritik der reinen Vernunft (2. Aufl. 1787). Band IV: Prolegomena (1783) und Metaphysische Anfangsgründe der Naturwissenschaft (1786). Band IX: Logik (1800). Seit 2008. Disponível em: http://kant.korpora.org. Acesso em:  25 dez 2025.

______. Crítica da razão pura. 3. ed. Trad. Fernando Costa Matos. Petrópolis, RJ: Vozes; Bragança Paulista, SP: Editora Universitária São Francisco, 2013.

______. Crítica da razão prática. Edição bilíngüe.Tradução Valerio Rohden. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

______. Crítica da razão prática. Tradução de Monica Hulshof. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016.

_____. Crítica da faculdade do juízo. Trad.Valerio Rohden e António Marques. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1993.

____. Crítica da faculdade do julgar. Trad.Fernando Costaa de Matos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016. 

______. Crítica da razão pura. Tradução Valerio Rohden e Udo Moosburguer. Coleção Os Pensadores. São Paulo,Abril Cultural, 1983.

______. Dissertação de 1770. De mundi sensibilis ataque inteligibilis forma et princípio. Akademie-Ausgabe. Acerca da forma e dos princípios do mundo sensível e inteligível. Trad. apres. e notas de Leonel Ribeiro dos Santos. Lisboa: Imprensa Casa da Moeda. FCSH da Universidade de Lisboa, 1985.

______. Prolegômenos a qualquer metafísica futura que possa apresentar-se como ciência. Trad. José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: Estação Liberdade, 2014)

______. Prolegômenos a toda metafísica futura. Lisboa: Edições 70, 1982.

______. Primeiros Princípios Metafísicos da Ciência da NaturezaLisboa: Edições 70, 2019. 

_______. Os Progressos da MetafísicaLisboa: Edições 70, 2018.

______. Histoire générale de la nature et théorie du ciel. Paris: Librairie Philosophique J. Vrin, 1984. p. 61-203.

______. Geographie. Physische Geographie. Paris: Aubier  Bibliothèque Philosophique, 1999.

______. Textos pré-críticos. São Paulo: Editora Unesp, 2005.

______. Textos seletos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

NEWTON. Isaac. Philosophiæ naturalis principia mathematicaEdusp, 2023. Volume 1.

______. Philosophiæ naturalis principia mathematica2. edição. São Paulo: Edusp, 2023. Volume 2.


domingo, 21 de dezembro de 2025

MEDITAÇÃO RETROSPECTIVA NOTURNA CLXXI: PERSPECTIVAS SOBRE "DOENÇAS DA ALMA", "VÍCIOS E VIRTUDES", "CURA DAS PAIXÕES" E "SEELSORGE"

(IMAGEM: "Pinterest")
Pausa na Oficina. Desenvolvendo.

PARA NOVOS APONTAMENTOS.

Estudando um tema, sobre o qual estudo desde os anos 80" sem abandonar o principal...

Mais uma vez, revisitando velho e recorrente tema: “As paixões”. Tenho escrito aqui vários pequenos textos sobre autores que, em grande medida, tomam uma postura dos que acreditam que as paixões, são bem próximas do que se denomina doença e propõem a “cura das paixões”, outros propondo uma “moderação das paixões”, como os estoicos e outros citados abaixo. Mas, aqui não se trata mais de suprimi-las, nem mesmo de contê-las, moderando-as. “Para Hume, a contraparte da dessacralização do mundo é, justamente, aquele “culto das paixões” que ensina a conviver em sociedade e a usufruir do prazer a que a natureza humana está predisposta.” 

Recentemente, nas pausas, tenho lido e relido algumas publicações de Frederick Campbell Crews (1933-2024). Publicou ensaios, foi crítico literário e professor emérito de Inglês na University of California, Berkeley.

Meu interesse em sua obra, o tema, parte da fase em que Crews passou a estudar e criticar a obra de Freud. Analisa em seus escritos, o estilo, o método e a relevância científica das suas propostas tendo participado, entre os anos 80 e 90 de debates conhecidos como "guerras de Freud."

O que me levou ao tema foi meu interesse desde a graduação. À época ainda via como bons olhos o assunto. Com a leitura de Karl R. Popper e sua crítica sobre o “critério de demarcação” comecei a ver outros lados da mesma temática. Continuei e, recentemente, como disse acima cheguei a Crews, Hansson Catherine Meyer e demais autores, citados abaixo, que tem me ajudado bastante nestas leituras e releituras do tema que, desde à época são constantes. Tenho descoberto e me surpreendido com as nos abordagens. Portanto, ddou prosseguimento...  

E, tem mais:

Hoje, acrescento Oskar Pfister que estou lendo desde o 29 de novembro de 2025.

1. L'Ilusion d'un avenir "Em 1928, o pastor Pfister, de Zurique, empreendeu uma resposta a O Futuro de uma Ilusão” (1927), de Freud, texto seminal que analisa o "fenômeno religioso" sob a perspectiva do "conhecimento inconsciente", em suas dimensões clínica e cultural. Psicanalista profundamente devotado a Freud, a quem conhecera cerca de vinte anos antes, Oskar Pfister recorreu à concepção de religião do fundador da psicanálise — seu profundo respeito por Freud não o impediu de apresentar uma firme defesa do que considerava religião autêntica, renovada pelo "cuidado das almas" (Seelesorge) enriquecido pela psicanálise. Este texto, aqui retraduzido com a máxima precisão, acompanhado de um índice e um glossário, é precedido por um estudo preliminar — que situa o pensamento de Pfister e as questões fundamentais em jogo neste debate — e seguido por Notas Históricas e Críticas destinadas a elucidar suas numerosas alusões. O leitor terá a oportunidade de acompanhar o argumento passo a passo e analisá-lo em conjunto com o texto de Freud (nova tradução, Cerf, 2012). A publicação desta edição crítica constitui uma contribuição teórica e histórica para o debate em curso sobre "Psicanálise e Religião"

...

Fonte (Amazon): “En 1928, le pasteur Pfister de Zürich entreprend de répondre à L'avenir d'une illusion de Freud (1927), le texte majeur d'analyse du " fait religieux " du point du vue du " savoir de l'inconscient ", en ses dimensions cliniques et culturelles. Psychanalyste très attaché à Freud, qu'il a rencontré une vingtaine d'années plus tôt, Oskar Pfister en appelle à la représentation de la religion que donne le créateur de la psychanalyse – le respect profond à son égard ne l'empêchant pas de produire une défense pied à pied de ce qu'il tient pour la religion authentique, renouvelée par le " soin des âmes " (Seelesorge) fécondée par la psychanalyse. Ce texte, retraduit ici de la façon la plus précise, accompagné d'index et d'un glossaire, est précédé d'une étude préliminaire – situant la pensée propre de Pfister et les enjeux de fond de ce débat – et est suivi de Notes historiques et critiques destinées à en saisir les nombreuses allusions. Le lecteur aura le loisir de suivre pas à pas l'argumentation de l'écrit et de l'envisager parallèlement au texte de Freud (nouvelle traduction, Cerf, 2012). La publication de cette édition critique constitue une contribution théorique et historique au débat " Psychanalyse et religion " jusqu'en son actualité.”.

2. https://marcosfilosofiamoderna.blogspot.com/2018/08/uma-discussao-sobre-evasivas-amiraveis.html?m=1

3. Revisitando os clássicos sobre o tema.

Geralmente, em filosofia, Aristóteles e Platão podem ser vistos como os primeiros pensadores a tratarem detidamente o tema da "paixões", e seu papel na constituição do ser humano. Para eles, as paixões se apresentam como obstáculos na obtenção do verdadeiro conhecimento, Platão chega a equiparar paixões e doenças, por exemplo. Na Modernidade, autores da área da Psicologia, tentam explicar os mecanismos para o funcionamento e consequências destas para conduta do ser humano. Na Filosofia, portanto, vários outros filósofos se dedicaram ao tema. Por exemplo: Cícero, Henri Bergson, René. Descartes, J.-J. Rousseau, Thomas Hobbes, Baruch Spinoza, Immanuel Kant, David Hume, Michel de Montaigne, Nicolau Maquiavel. Voltaire, Hume e outros.

No final do texto, acrescento uma nota de rodapé, referente ao que tenho refletido sobre o tema, há alguns anos; saindo do campo específico do texto, que é um esforço de continuidade nas reflexões sobre o tema na filosofia e na psicologia, conforme autores listados no parágrafo acima.

Na Ética a Nicômaco, capítulo 3 do livro 1, Aristóteles aponta elementos sobre como deve ser estudado o assunto das paixões. Ele mesmo, parece reconhecer os limites e a dificuldade em se traçar um estudo definitivo.

A quem pretenda estudar o assunto, Aristóteles sugere uma conduta que reconheça a dificuldade em se apresentar argumentos definitivos; conclusões apressadas. A razão (tem limites) não pode tudo, nesse assunto. As paixões, segundo Aristóteles, deixam, mesmo assim, abertas as possibilidades para nosso autogoverno. Como lemos em Lebrun (1987):

“O virtuoso, [ao invés de refrear as paixões], age corretamente, mas em harmonia com suas paixões, porque ele as dominou de uma vez por todas. Não só aprendeu a agir de modo conveniente, mas a sentir o páthos adequado” (LEBRUN, 1987, p. 20).

Raciocínio bem próximo, tenho estudado nas obras de pensadores estoicos como as de Epicteto, Musônio Rufo, Sêneca e Marco Aurélio.

Ou seja: na obra de Aristóteles, a discussão sobre as paixões é fundamental na formação de indivíduo virtuoso. Para ele, o homem é responsável pela autoeducação das tendências naturais; o mau uso ou usá-las para o bem e virtude, é responsabilidade de cada um. Alcançar a virtude, portanto, seria o resultado do exercício constante da razão pelo homem. Ainda nos diz, Lebrun:

“Devemos aprender a viver em conformidade com o lógos, mas sem esquecer que as paixões continuam sendo a matéria de nossa conduta – e que só a propósito de seres passionais se pode falar em conduta razoável. Paixão e razão são inseparáveis, assim como a matéria é inseparável da obra e o mármore da estátua (LEBRUN, 1987, p. 22).”

Resta-nos assim, em relação à paixões, enfrentarmos a questão da autoeducação e dominá-las. E, acima de tudo, bem conduzí-las!

"[5a] As coisas não inquietam os homens, mas as opiniões sobre as coisas." (EPICTETO, 2012)

Hoje, 16 de janeiro, acabei der reler um outro livro de David Hume sobre as paixões e anoto aqui o que diz o prof. Pedro Paulo Pimenta.

E, segundo o tradutor: “O Sr. Hume possui um sentimento delicado, um pensamento de feitio original, uma linguagem perspícua, não raro elegante, qualidades que não poderiam deixar de recomendar seus escritos a todo leitor de bom gosto. É pena que um gênio como esse empregue as suas habilidades como frequentemente o faz em seus ataques à religião de seu país. Ele não age como um inimigo franco e leal, mas tenta enfraquecer a autoridade dela por meio de sugestões oblíquas e insinuações ardilosas. Desse ponto de vista, sua obra não merece muita estima, se é que merece alguma; e poucos leitores dotados de discernimento o louvarão com epítetos de acuidade ou elegância, se considerarem que ele emprega essas qualidades para preencher a mente com as incômodas flutuações do ceticismo e com uma infidelidade sombria. (William Rose, 1757).

As paixões nunca foram bem vistas pelos filósofos. De Platão Aristóteles a Descartes e Hobbes, elas são o contraponto da razão. Imiscuindo-se na imaginação, atrapalham as deliberações razoáveis e perturbam a conduta. Incontornáveis, porque enraizadas no corpo, devem ser contidas. Em manuais dedicados à conduta do entendimento, Locke e Espinosa tentam proteger as ideias retas e sãs contra a ação insidiosa desse inimigo formidável. Nessa história de desconfiança, Hume é a exceção. Adepto de uma filosofia experimental pautada por um rigoroso método de análise da experiência moral, ele se distancia dos filósofos e aproxima-se dos moralistas. É um admirador dos preceitos clássicos do Grande Século francês, época em que a boa sociedade se dedicava ao que Auerbach chamou de “culto das paixões”. Leitor de Racine, Hume descobre nas próprias paixões o antídoto para os males que elas causam. Doravante, não se trata mais de suprimi-las, nem mesmo de contê-las. Apropriando-se da sua força magnífica, a arte, e em especial a arte de escrever, elabora uma pedagogia da sensibilidade. A partir desse preceito, Hume tece considerações críticas sobre a oratória, a tragédia, a poesia e a história, ocupando-se delas em seus ensaios morais e literários (publicados pela Iluminuras no volume A arte de escrever ensaio). Já neste outro volume, o leitor encontrará, além da Dissertação sobre as paixões, que retoma o livro II do Tratado da natureza humana, o opúsculo História natural da religião. Esse texto veemente encontra as paixões na origem primeira da religião. Mas que não se espere desse cético convicto uma defesa da “religião natural”, baseada na ciência e na razão. A implacável descrição da gênese do fenômeno religioso termina com um elogio da descrença. Mas não do niilismo. Para Hume, a contraparte da dessacralização do mundo é, justamente, aquele “culto das paixões” que ensina a conviver em sociedade e a usufruir do prazer a que a natureza humana está predisposta.” (Pedro Paulo Pimenta)

4. OUTRAS PRERSPECTIVAS:

"Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer as suas más inclinações?

“Sim, e por vezes fazendo esforços bem pequenos. O que lhe falta é a vontade. Ah! Quão poucos dentre vós fazem esforços!” (LE 909)

Na Carta LXXV, Lúcio Aneu Sêneca, ao dirigir-se a Lucílio, fala sobre o “progresso moral” e ao tratar da "doença moral e do doente", utiliza-se de comparação com a Medicina. 

Tenho notado, nas leituras que faço das obras dos antigos, as aproximações que fazem entre a Medicina e a Filosofia; e, é, exatamente por isso, que tenho aproveitado as pausas na pesquisa principal para aprender com eles essa relação da filosofia com a saúde, a medicina **.

É notório, na Carta citada, que o estudante de filosofia “é um doente”, e seu professor um médico. A carta toda faz esta aproximação, comparando o filósofo com o médico. Alguém que se pretenda estudar filosofia “é um doente”, que precisa de tratamento intensivo, não  de lições de lazer. Ora:

“Um doente não chama um médico por que é eloquente; mas se acontecer que o médico que pode curá-lo também discorra elegantemente sobre o tratamento a ser seguido, o paciente vai levá-lo em bom crédito.” (LXXV : 6)

Um dos pontos principais da carta, portanto é a classificação dos que estudam a Filosofia, encerrando com uma definição, do significado que seja a Liberdade: “[...] não temer nem homens nem deuses; significa não desejar a maldade ou o excesso; significa possuir poder supremo sobre si mesmo e é um bem inestimável ser mestre de si mesmo.” (LXXV : 17)

Mas, li a carta focado nesta analogia que ele faz entre o professor de Filosofia, o estudante de Filosofia e o Médico. Claro, destaco, desta carta o que ele diz sobre as paixões, que, para mim justifica essa analogia. Por exemplo:

“Muitas vezes, já expliquei a diferença entre as doenças da mente e suas paixões. E vou lembrá-lo mais uma vez: as doenças são endurecidas e vícios crônicos, como a ganância e ambição; eles envolvem a mente em um aperto muito próximo, e começam a ser seus males permanentes. Para dar uma definição breve: por “doença” queremos dizer uma perversão persistente do julgamento, de modo que as coisas que são levemente desejáveis são consideradas altamente desejáveis. Ou, se você preferir, podemos defini-la assim: ser muito zeloso em lutar por coisas que são apenas ligeiramente desejáveis ou não desejáveis de todo, ou valorizar as coisas que devem ser valorizadas apenas ligeiramente. (LXXV : 11)

Para mim, nesse estudo, a citação abaixo, da carta, já coloca um desafio imenso, bem no sentido das reflexões que tenho feito a partir de todos autores que tenho estudado atualmente. Diz ele, a Lucílio:

“Paixões” são impulsos indesejáveis do espírito, repentinas e veementes; elas vêm tão frequentemente, e tão pouca atenção tem sido dada a elas, que causam um estado de doença; assim como um catarro, quando há apenas um caso e o catarro ainda não se tornou habitual, produz apenas tosse, mas, quando se torna regular e crônico provoca a tuberculose. Portanto, podemos dizer que aqueles que fizeram o maior progresso estão além do alcance das “doenças”; mas eles ainda sentem as “paixões”, mesmo quando muito perto da perfeição.” (LXXV : 12)

Ou seja: as paixões são o que precisamos dominar, nosso progresso moral, disso depende. E, acrescento uma última questão, para pensarmos com Sêneca e avançarmos refletindo: 

 "Como se poderá determinar o limite onde as paixões deixam de ser boas para se tornarem más?

"As paixões são como um corcel, que só tem utilidade quando governado, e que se torna perigoso quando passa a governar. Uma paixão se torna perigosa a partir do momento em que deixais de poder governá-la, e que dá em resultado um prejuízo qualquer para vós mesmos ou para outrem.” (LE 908). 

Mas, ainda assim, apesar dos esforços:

"Não haverá paixões tão vivas e irresistíveis que a vontade seja impotente para dominá-las?

“Há muitas pessoas que dizem: Quero, mas a vontade só lhes está nos lábios. Querem, porém muito satisfeitas ficam que não seja como “querem”. Quando o homem crê que não pode vencer as suas paixões, é que seu Espírito se compraz nelas, em consequência da sua inferioridade. Compreende a sua natureza espiritual aquele que as procura reprimir. Vencê-las é, para ele, uma vitória do Espírito sobre a matéria." (LE 911)

Quanto à Carta: Sêneca termina, como sempre, aconselhando:

“Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem.”

4a. Acrescentando hoje 18.12.2025:

CUNHA, Bruno. A teodiceia de Kant em À paz perpétua. In: Cadernos de filosofia alemã. jul/dez 2025.  Disponível em: https://revistas.usp.br/filosofiaalema/article/view/225988/219723?fbclid=IwVERTSAOyYJ5leHRuA2FlbQIxMABzcnRjBmFwcF9pZAwzNTA2ODU1MzE3MjgAAR6wcp4tGVJkeKmgTY-aVoBZPuqehwJvVQVH5J1GzYQsx1Wqf8tzYlkw_bZnag_aem_QOXvn6Tc0hhYgqCFCKfIaw&sfnsn=wiwspmo. Acesso em: 18.12.2025.

4b. CUNHA, B. Virtude e moralidadenas lições de ética de Kant. In: ethic@, Florianópolis, v. 24, 01-28.  Novembro. 2025. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ethic/article/view/108628/60762 . Acesso em: 18.12.2025.

Assim prossigamos...

(Os grifos destaques são meus)

.'.

** As obras relacionadas na Bibliografia, todas tem, de certa forma, algo do que anotei acima. Em maior ou menor especificidade, do que tenho estudado e, com o tempo, será objetivo de organização e reelaboração futura...

______.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1987 (col. Os Pensadores).

______. Ethica Nicomachea - III 9 - IV 15: As virtudes morais. Trad. Marco Zingano. São Paulo: Odysseus Editora, 2019.

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).

CÍCERO. On ends (The Finibus). Tradução de H. Rackham. Harvard: https://www.loebclassics.com, 1914.

DESCARTES, R. Oeuvres. Org. C. Adam e P. Tannery. Paris: Vrin, 1996. 11v. [indicadas no texto como Ad & Tan]

_______. Descartes: oeuvres et lettres. Org. André Bidoux. Paris: Gallimard, 1953. (Pléiade).

______. Discursos do Método; Meditações metafísicas; Objeções e Respostas; As Paixões da Alma; Cartas. (Introdução de Gilles-Gaston Granger; prefácio e notas de Gerard Lebrun; Trad. de J. Guinsberg), Bento Prado J. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983 (Os Pensadores).

EPICTÉTE. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue).

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

______. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments: Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

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REFLEXÃO MATINAL CCI: APONTAMENTOS SOBRE CRISTIANISMO PRIMITIVO NA GRÉCIA CLÁSSICA E NA IDADE MÉDIA

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