Dado o percurso que
iniciei há algum tempo e está em fase final, retornei a alguns textos de obras que
passaram a fazer parte das minhas leituras. De grande utilidade para as minhas
pesquisas, em andamento e formação pessoal; são leituras que tem trazido uma
série de apontamentos fundamentais além de importante
bibliografia, algumas já acrescentadas às minhas leituras e outras a serem
lidas o mais breve possível.
Aqui, destaco a que foi traduzida pelos professore Charles Feldhaus e Bruno Cunha que tenho estudado com regularidade :
“Em 1924, por ocasião do ducentésimo aniversário de
nascimento do pensador de Königsberg, foram trazidas à luz as Lições de
Ética, de Immanuel Kant.
E o que, de fato, são essas Lições? Qual a sua natureza e a sua origem? Muito
embora Kant tenha dado em algum momento o aval para a divulgação de suas aulas,
parece bastante claro que as Lições, de modo geral, não são textos que foram
redigidos com o propósito de publicação. Trata-se das notas que foram tomadas
pelos alunos a partir dos ensinamentos do professor em sala de aula.
Apesar desse atraso na
edição e na publicação das Lições de Ética, é perceptível que houve um
reconhecimento progressivo da importância desses manuscritos no século XX, o
que é atestado, sobretudo, nos estudos e comentários que foram desenvolvidos, a
partir de então, utilizando esse material como um suplemento para a
reconstrução e a compreensão do desenvolvimento do pensamento moral de
Kant.”
Seguem abaixo, algumas citações de Lições de Ética de Immanuel Kant por PaulMenzer, (Dos trechos das “Lições de Ética”; de Kant Paul Menzer traduzidos e postados pelo professor Charles Feldhaus, no Facebook) antes da publicação da obra pela editora Unesp.
"A imoralidade da
ação portanto não consiste na falta de entendimento, mas na corrupção da
vontade ou do coração". (p. 55)
Pedagogia moral
do Kant nas Lições de Ética, (p. 56): "Não temos de representar uma ação
como proibida ou como prejudicial, mas como em si mesma interiormente
desprezível, por exemplo, a criança que aqui mente, não tem de ser castigada,
mas ser envergonhada, se tem de nutrir um nojo, uma aversão, um desprezo em
relação a mesma, assim como se com estrume fosse atacada; através de tal
repetição frequente poderíamos nela uma tal aversão contra o vício suscitar,
que para ela pode ser tornada em habitus."
Outro trecho de Lições de Ética - Paul Menzer, (p. 61)... sobre relação entre deveres éticos e deveres jurídicos em Kant... se o dever do opúsculo é um dever jurídico, como diz em nota, a consequência é mesmo... mentir é errado (mesmo que contra intuitivo)... e da passagem se poderia concluir, mesmo que a ética dissesse outra coisa...."A primeira condição de todos os deveres éticos é porém essa, que a obrigação jurídica seja satisfeita primeiro. Aquela obrigação, que surge do direito de outro, tem de primeiro ser satisfeita; pois se ainda me encontro sob obrigação jurídica, então não sou livre: pois me encontro sob o arbítrio de outro. Se agora porém um dever ético desejo executar, então desejo um dever livre executar; se ainda não sou livre da obrigação jurídica, então tenho de primeiro me libertar da jurídica, na medida em que a cumpro, e somente depois posso executar os deveres éticos."
(p. 68-69)... recompensa,
castigo, amor... o que seria melhor para induzir a boa conduta... "As
recompensas concordam mais com a moralidade; pois a ação que eu pratico por
causa disso, porque as consequências das mesmas são agradáveis, e a lei, que
promete me a minha ação boa recompensa, poderei amar, mas a lei, que ameaça com
castigo, não posso amar. O amor é porém um grande fundamento de determinação,
para praticar ações; por isso é na religião melhor começar com as recompensas
do que com os castigos . Os castigos porém tem de concordar com a indole
erecta, com o modo mais nobre de pensar, não tem de ser desdenhosos e
vergonhosos, pois senão produzem um modo de pensar não nobre."
Sobre ações heteronomas... (p. 67) "Se comparamos os castigos e as recompensas, então observamos, que nem os castigos nem as recompensas devem ser considerados como os fundamentos de determinação da ação. As recompensas não devem ser nenhum fundamento de determinação, para praticar as ações boas, e os castigos não devem ser nenhum fundamento de determinação, para deixar de fazer as ações más. Na medida em que elas fundam um temperamento, que é moderado, indoles abjectam. Aquele chamo por isso, que mediante a recompensa é movido, a executar ações boas, indoles mercenaria, e por isso aquele que mediante castigos é retido de ações más, indoles servilis;"
"KANT como historiador da ÉTICA... (p. 79.80)"
"Todos os filósofos
antigos exigiram do ser humano nada mais do que sua natureza poderia realizar,
por isso sua lei não tinha nenhuma pureza. Portanto suas leis eram acomodadas à
capacidade da natureza humana, e onde se levantava além da capacidade da
natureza humana, então era o impulso para isso não o juízo moral puro, mas
orgulho, honra, por exemplo, coragem extraordinária, generosidade. Desde o
tempo do evangelho é então a pureza completa e santidade da lei moral
compreendida, se encontra igualmente em nossa razão."
(p. 91) uma ação moral e uma ação virtuosa não são a
mesma coisa e nem virtude é igual costume ... "Virtude porém
expressa não muito exatamente a bondade moral. Virtude significa força no
autodomínio e autocontrole em relação à disposição moral. Aqui porém considero
a primeira fonte da disposição. Aqui é algo tomado por não verdadeiro, que
apenas na sequência se esclarece, pois a ética pura e simplesmente a disposição
censura, se tem tomado a palavra costume (Sitten) e eticidade (Sittlichkeit),
para expressar a moralidade, apenas costume (Sitten) é a essência da
decência. A virtude pertence porém um certo grau da bondade ética, uma certa autocoerção
e domínio, sobre si mesmo. Povos podem ter costumes (Sitten), mas
nenhuma virtude, por exemplo, franceses e outros podem ter virtudes, mas nenhum
costume (Sitten) (Conduite é o estilo dos costumes). Ciência dos
costumes não é ainda nenhuma moralidade. Porque nós porém nenhuma outra palavra
temos para moralidade, então tomemos a eticidade pela moralidade, porque nós
não podemos tomar virtude no lugar da moralidade.”
Sobre a relação entre religião e moral em Kant: (p. 101) "Toda religião pressupõe moral, por conseguinte a moral não pode ser derivada da religião. Toda religião, que não pressupõe a moral, consiste in cultu externo, em prestação de serviço e adoração (Hochpreisung); assim eram todas as religiões pagãs, elas representavam-se a divindade como temível e por isso invejosa, a qual não se poderia sacrificar incenso suficiente. Todas as religiões pressupõem por conseguinte a moralidade como fundamento. A religião dá à moralidade força (Nachdruck), beleza e realidade, pois a moralidade em si é algo ideal."
Kant se referindo a Spinoza em suas Lições de Ética, (p. 107) "O ateísta pode estar na pura especulação, mas na prática pode ser tal teísta ou adorador de Deus, cujo erro estende-se à teologia e não à religião; tais pessoas que decaem da especulação no ateísmo, não deveriam-se consideradas tão más, como se costuma, apenas seu entendimento foi corrompido, mas não sua vontade; por exemplo, Spinoza fez aquilo, que um homem religioso deveria fazer. Seu coração era bom, e em breve teria sido trazido ao correto, excedia-se apenas demais [108] nos fundamentos especulativos."
"Zombar da religião
em geral é um crime horrível, pois é algo importante; contudo não se tem de
imediatamente considerar como um zombador, aquele que sobre ela fala de modo
bem humorado. Tais seres humanos têm religião interiormente, apenas deixam seu
humor e sua graça o percurso.." (p. 110)
Reflexão das aulas de
ética de Kant sobre relação entre bondade, maldade do ser humano e virtude... "Não
é bom, a virtude e o germe do bem no ser humano tornar suspeito, o que muitos
eruditos praticaram, a fim de mostrar tanto melhor ao ser humano seu estado
corrompido e o pensamento, que seria virtuoso, desanimar. Tal é porém muito
odioso, a imperfeição do ser humano mostra-se já mais tarde pela pureza da lei
moral. Que procura o cerne do mau no ser humano, é quase um advogado do diabo.
Assim um certo Hofstede [114] busca contra Bélisaire subverter a virtude, qual
é benefício disso para religião? Têm mais grande benefício, se ouço contar, por
exemplo, do caráter de Sócrates como virtuoso perfeito, que pode ser quer
inventado quer verdadeiro, e procura essa imagem tornar ainda mais perfeita, do
que deveria procurar e expor manchas nisso; levanta contudo minha alma à
imitação na virtude, é um móbil para mim. Quem porém prega tais descrenças
contra a virtude e o cerne do bem no ser humano, que deseja com isso dizer
tanto: que todos juntos pela natureza somos patifes.." (p. 113-4)
Referência a Rousseau nas
mesmas Lições de Ética de Kant, Paul Menzer, (p. 114)... "Muitos têm
declarado, que no ser humano não se encontra nenhum cerne ao bem, mas ao mal, e
unicamente Rousseau começou por isso a declarar o contrário. Esta é a descrença
moral. "
Na (p. 128)... "Tal
zelo é em todas as coisas bom; mas se na religião significa afeto de conduzir
tudo para promover a religião, então é cego, se existe algo no que qualquer um
deve ter os olhos abertos ao mundo, é na religião."
Na (p. 136) ... sobre
basear a ética em exemplos "Ora se pergunta, se também exemplos na
moral e religião devem ser autorizados? O que é apodítico a priori, não precisa
de nenhum exemplo, pois aí considero a necessidade a priori, por exemplo,
sentenças matemáticas não precisam de nenhum exemplo, pois o exemplo não serve
como prova, mas como ilustração."
Deveres em relação a si
mesmo como condição do cumprimento dos deveres em relação aos outros... um
beberrão não faz mal a ninguém, diz ele, mas pode se tornar incapaz de cumprir
seus deveres para com outros nessa condição..." (p. 147).
"Quem os deveres
contra si mesmo viola, descarta a humanidade e então ele não está mais na
posição de deveres em relação a outros executar. Então pode o ser humano, que
os deveres em relação aos outros tem mal executado, que não tem sido corajoso,
bondoso, compassivo, que porém os deveres em relação a si mesmo tem observado, que
tem vivido então se convém, contudo em si um certo valor interior tem. Que
porém os deveres em relação a si mesmo tem violado em si mesmo nenhum valor
interior. Portanto a violação de deveres em relação a si mesmo toma do ser
humano todo o valor e a violação dos deveres em relação aos outros toma do ser
humano apenas um valor respectivo. Por isso são os deveres em relação a si
mesmo as condições sob as quais os deveres em relação aos outros podem ser
observados. Queremos primeiramente a violação dos deveres em relação a si mesmo
mostrar em um exemplo. Um beberrão não causa a nenhum ser humano dano e se ele
por natureza é forte então ele não faz também nenhum dano a si mesmo porém ele
é um objeto de desprezo."
O "bom uso da
liberdade" como "regra suprema".
Aqui; “Kant ensaiando
formular o imperativo categórico nas Lições de Ética Paul Menzer":
"Por liberdade,
posso pensar toda a ausência de regras, se não é necessitada objetivamente;
esses fundamentos que necessitam objetivamente se encontram no entendimento,
que restringem a liberdade; portanto, o bom uso da liberdade é a regra suprema.
Qual é condição sobre a qual a liberdade é restringida? Esta é a lei. A lei
geral é, portanto essa: aja de tal modo que em todas as suas ações domine a
conformidade a regras." (p. 152...)
Uma tentativa de apontar
um princípio máximo da ética nas mesmas Lições de Ética de Kant de Paul Menzer,
. (p. 154): "O princípio de todos os deveres é, portanto a concordância
do uso da liberdade com os fins essenciais da humanidade." Na Doutrina
da Virtude, Kant vai falar de dois fins que são também deveres...
Não confundir consciência
moral (Gewissen) com censuras conforme a prudência... "Cada um
tem seu impulso de se lisonjear-se e se censurar conforme regras e prudência.
Esse porém não é ainda nenhuma consciência moral, mas apenas um análogo da
consciência moral, segundo o qual o ser humano confere louvor e censura."
(p. 161-2...) minha tradução
"[...] o domínio sobre si mesmo depende da força do sentimento moral". (Immanuel Kant)"
...
Amor próprio e estima nas
Lições de Ética Kant Paulo Menzer, (p. 169...) "Deve-se distinguir o
amor próprio da estima. Essa trata do valor interior, amor [próprio] porém da
relação de meu valor em relação a prosperidade. Estimamos aquilo, que tem um
valor interior e amamos aquilo, que tem um valor de modo relativo, por exemplo,
entendimento tem um valor interior, sem considerar ao que ele se aplica, Aquele
que observou seus deveres, que não desonrou sua pessoa, é digno de estima,
aquele que é sociável, é digno de amor. Pode o juízo sobre nós nos representar
quer como digno de amor que como digno de respeito. Quem acredita nisso, que
ele tem um coração bom, que ele quer de boa vontade ajudar a todos os seres
humanos, se ele apenas fosse rico, e se ele também realmente é rico, então ele
pensa, se ele ainda mais rico fosse, como aproximadamente é um outro, pois esse
precisa [suprir primeiro suas] necessidade, o que todos os avarentos acreditam,
que consideram-se dignos de amor."
"... relação entre sentimento moral, determinação da ação correta e domínio de si mesmo... sentimento moral é móbil, é princípio de execução e não motivo, princípio de justificação... "Esse sentimento moral não é nenhuma distinção entre o mau e o bem, mas um móbil, em que nossa sensibilidade concorda com o entendimento. Seres humanos podem na verdade ter uma boa faculdade do juízo na moral, mas nenhum sentimento. Eles eventualmente consideram, que uma ação não seja boa, mas seja merecedora de castigo; mas eles contudo cometem. Ora porém o domínio sobre si mesmo depende da força do sentimento moral." (p. 174)
“[...] "procure
provar na vida mediante ações ser bom e ativo, não mediante oração fervorosa,
mas mediante boas ações, mediante regularidade e trabalho, particularmente
mediante integridade e conduta boa em relação ao próximo, então se pode ver que
é bom. " (p. 179...)
Essa máxima das Lições de
Ética do Kant Paul Menzer é digna de menção... (p. 179): "procure
provar na vida mediante ações ser bom e ativo, não mediante oração fervorosa,
mas mediante boas ações, mediante regularidade e trabalho, particularmente
mediante integridade e conduta boa em relação ao próximo, então se pode ver que
é bom. "
"A presença de
espírito pertence à autocracia. A presença de espírito é a conjugação e
harmonia das faculdades do ânimo, que se mostram na execução dos negócios, isso
não é na verdade coisa de qualquer um, mas se baseia no talento. Pode se porém
ainda mediante exercício ser fortalecida." (p.
181...)
"A coerção objetiva
é a necessidade (Necessitation) da ação por fundamentos de determinação
objetivos. A coerção subjetiva é a necessidade (Notigung) de uma pessoa
através daquilo que tem em seu sujeito a maior necessidade e força movente. A
coerção não é portanto uma necessidade (Notwendigkeit), mas uma
necessidade (Notigung) à ação. " O trecho é meio truncado... mas
como traduzir em português... esses três termos para "necessidade"
no sentido moral...
Sobre como lidamos com a
felicidade... "Os fundamentos, para cultivar essa alma constante, são,
que procura comportar-se com a falsa aparência, que se encontra nos pretensos
bens da vida e na pretensa felicidade; a maior causa de felicidade ou
infelicidade, de bem-estar ou mal-estar, de agrado ou desagrado encontra-se na
relação com outros seres humanos, pois se todos comem juntos na cidade, queijo
ruim, então como também com divertimento e com alma constante, apenas se todos
estiverem com vida boa e apenas eu em circunstâncias ruins, então consideraria
uma infelicidade. Portanto depende toda felicidade ou infelicidade de nós e
do modo como nosso ânimo recebe a mesma." (p. 182...)
Quando o professor já
fazia a “Última revisão das Lições de Ética, Kant, Paul Menzer, afirmou: “encontro
essa frase de Kant: "Aquele que está na miséria, mas a suporta com
[183] alma calma e alegre (não se importando com isso, uma vez que a miséria já
está aí e não pode ser alterada), não é um miserável. Mas aquele que acredita
ser um miserável, é um miserável." (pp. 182-3).
"O avarento,
portanto, é um desconhecido para si mesmo. Ele não se conhece e, por isso, é
incorrigível, posto que é absolutamente impossível convencê-lo de seu
vício."...
"O princípio
patológico da moralidade consiste nisso, satisfazer todas as suas inclinações,
isso seria o epicurismo bestial, isso porém ainda não é o verdadeiro
epicurismo." mesmo Kant sabia que certas críticas
rasteiras ao epicurismo são equivocadas...
Kant, ainda nas Lições de
Ética Menzer... "precisamos de um amigo para o qual possamos nos abrir
e botar para fora todas as nossas perspectivas e opiniões, um amigo diante do
qual não podemos esconder nada e com quem somos capazes de nos comunicar
completamente"... todo mundo tem ao menos um desses eu suponho ao
menos...
....
"Eu não necessito de
um amigo do qual possa extrair algo, mas apenas de um cuja relação social eu
possa desfrutar e com quem possa me abrir."
O que é uma pessoa
invejosa conforme Lições de Ética Kant Menzer... é uma pessoa que não apenas
quer ser feliz, mas quer ser a única pessoa a ser feliz no mundo, a pessoa
invejosa quer extirpar a felicidade do mundo...
"Mas faço algo por causa disso, porque em si mesmo simplesmente é bom, então isso é uma disposição moral. Portanto, uma ação tem de acontecer, não por causa disso, porque Deus deseja lhe, mas porque ela em si mesma é honesta ou boa e porque ela assim é, então Deus a deseja e exige lhe de nós. "
______.
CUNHA, Bruno. A gênese
da ética em Kant. São Paulo: Editora LiberArs, 2017.
KANT, Immanuel. Lições
de ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Fedhaus. São Paulo: Editora
Unesp, 2018.
______. Eine
vorlesung Kants über ethik. [PHILOSOPHIA PRACTICA UNIVERSALIS; ETHICA.] MENZER,
Paul. im Auftrage der Kantgesellschaft. Pan Verlag. R. Heise, 1924
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