segunda-feira, 27 de maio de 2024

REFLEXÃO MATINAL CLXXI: SOBRE A "GLORÍOLA" OU "A RESPEITO DOS QUE DESEJAM SER ADMIRADOS" (II)


Apontamentos  para ajudar a memória na elaboração de um texto futuro: esboço.

 

Tentando retornar a trabalho, recuperar atrasos e prosseguir!

...

Incluindo no projeto de Serenidade [εὐροίας].

...

Não me surpreendi ouvindo o próprio autor (In memoriam) dizer que este livro foi um fracasso de vendas.

Primeiro, porque ataca um vício tão comum, que precisamos superar.

Em segundo lugar, porque defende uma tese bastante interessante, que me agrada porque contraria visões contemporâneas herdadas de um autor que estou estudando atentamente.

E, por último, por se tornar em mais uma ferramenta de estudos sobre as paixões e vícios no blog pessoal.

...

O LIVRO:

GIKOVATE, Flávio. "Vício dos vícios: um estudo sobre a vaidade humana. São Paulo: MG Editores associados, 1987.

O prazer de se exibir, chamar a atenção e se destacar que é como a vaidade é definida pelo autor participa de todas as ações do ser humano e é parte essencial em todo tipo de interação social. O livro defende que a serenidade e a boa qualidade de vida só serão possíveis para aqueles que não se deixaram escravizar pela vaidade."

I.

De tão próximos, tendemos esperar grandes coisas. O mínimo reconhecimento profissional ou pessoal. Decepções cruentas, acumulam-se; o tapete sempre se movendo sob os pés; seguido de risos sarcásticos.

No entanto, de tão longe, de onde menos se espera, surpreendentemente vem um alento... Não, isso não é o fundamental, mas bem sei o quanto faz Bem ter o trabalho reconhecido. Só isso!

"Consciência tranquila e fé no futuro". Posso prosseguir com o Lema.

...

"Vi entre os homens um mal que prevalece sob o sol. (Cohélet)"

"Vaidades... tudo vaidades...(Cohélet)"

Recordava-me há pouco do que disse o Cohélet:

"Tudo é vão e fútil. Futilidade das futilidades! Sim, tudo é fútil. (1 : 2)".

E, acrescentei, de uma lembrança de 2019 e antes, um texto de um dos estoicos estudados aqui. A mesma ideia está presente em EpictetoSêneca, e entre outros que sigo relendo, estudando sempre com enfoque sobre algo que se busca tanto e que não me apetece, a Gloríola: e o que ela é?

É só futilidade das futilidades mesmo... e, para este efêmero rincão!

.'.

“Daqui a pouco tempo, só restará de ti cinza ou um esqueleto, um nome ou nem sequer um nome — e o nome é apenas ruído vão, um eco. As coisas mais apreciadas na vida não passam de vaidade, podridão, mesquinhez, cães que mordem, crianças que brigam, riem e logo a seguir choram. Fé, pudor, justiça e verdade fugiram “para o Olimpo, bem longe da face da Terra”. O que te prende ainda aqui, se é verdade que os objetos sensíveis não têm estabilidade nem duração, se os sentidos, desprovidos de agudeza, são fracos e facilmente enganados, se a tua própria alma pequenina é apenas um vapor do sangue, se a glória perante tais homens é apenas vaidade? Por que não esperas com serenidade o momento de te apagares ou mudares de morada? E até que chegue esse momento, de que precisas? Que outra coisa além de venerar e abençoar os deuses, fazer bem aos homens, suportá-los, abster-te e considerar que todas as coisas que vês, alheias ao teu corpo e ao teu espírito, não te pertencem nem estão sob o teu poder?

...

Podes sempre ter uma vida feliz porque está na tua mão seguir o caminho direito, pensar e proceder com método. Eis aqui duas coisas comuns à alma de Deus e do homem e de todo ser racional: não poder ser estorvado por outro; colocar o bem em intenções e ações conformes à justiça, e limitar aí os seus desejos.”

Para que correr atrás de reconhecimentos, pueris e até repugnantes aplausos, da “gloríola”, “futilidade”, de nadas, de efêmeros, insignificantes... ?

Ademais, como acabei de reler, agora mesmo, a edição bilíngue (grego-português) do Manual de Epicteto e agora lendo e estudando a primeira tiragem brasileira do Livro 1 das Diatribes de Epicteto, com tradução do prof. Aldo Dinucci, obra que só conhecia em "grego-francês":

II.

“Diatribe 1.21 – A respeito dos que desejam ser admirados[1]

(1) Quando alguém está na posição que deve ter na vida, não fica embasbacado com as coisas exteriores. (2) Homem, o que desejas que te ocorra? “Eu me contento se eu desejar e repudiar segundo a natureza; se me servir do impulso e da repulsa segundo a natureza; e o mesmo quanto à intenção, ao propósito, ao assentimento”. Então por que andas de lá para cá diante de nós como se tivesses engolido uma espada? (3) – Desejo que os que me encontrem me admirem e, seguindo-me, exclamem: “O grande filósofo!” (4) Quem são estes que queres que te admirem? Não são aqueles sobre os quais costumas dizer que estão loucos? Queres ser admirado pelos loucos?”

(Os Grifos e os Destaques são meus)

Esta foi, portanto, a reflexão matinal antes da retomada e intensificação do estudos cotidianos.

______.

ARRIANO FLÁVIO. As Diatribes de Epicteto. Livro I. Tradução, introdução e comentário Aldo Dinucci. Universidade Federal de Sergipe. Série Autores Gregos e Latinos Coimbra, Imprensa da universidade de Coimbra, 2020.

COELHO, Humberto Schubert. O pensamento crítico: história e método. Juiz de Fora, MG: Editora UFJF, 2022.

DESCARTES, René.  As paixões da alma. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

DINUCCI, A. Fragmentos menores de Caio Musônio Rufo; Gaius Musonius Rufus Fragmenta MinoraIn: Trans/Form/Ação. vol.35 n.3 Marília, 2012.

______. Introdução ao Manual de Epicteto. 3. ed. São Cristóvão: EdiUFS, 2012.

______. Epictetus Discourses. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

______. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments: Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

FRANKL, Viktor. O sofrimento humano: Fundamentos antropológicos da psicoterapia. Trad. Bocarro, Karleno e Bittencourt, Renato. Prefácio, Marino, Heloísa Reis. São Paulo: É Realizações, 2019.

______. Em busca de sentido. 25. ed. - São Leopoldo, RS: Sinodal; Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

______. Yes to Life: In spite of everything. Beacon Press, 2020.

______. Um sentido para a vida: psicoterapia e humanismo. Aparecida, SP: Ideias e letras, 2005.

GALENO. Aforismos. São Paulo: E. Unifesp, 2010.

______. On the passions and errors of the soul. Translated by Paul W . Harkins with an introduction and interpretation by Walter Riese. Ohio State University Press, 1963.

GAZOLLA, Rachel.  O ofício do filósofo estóico: o duplo registro do discurso da Stoa, Loyola, São Paulo, 1999.

GIKOVATE, Flávio. Vício dos vícios: um estudo sobre a vaidade humana. São Paulo: MG Editores associados, 1987.

______. O mal, o bem e mais além: egoístas, generosos e justos. São Paulo: MG Editores associados, 2005.

______. Mudar: caminhos para a transformação verdadeira. São Paulo: MG Editores associados, 2014.

_____. Os sentidos da vida. São Paulo: Editora Moderna, 2009.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

______. A filosofia como maneira de viver: entrevistas de Jeannie Carlier e Arnold I. Davidson. (Trad. Lara Christina de Malimpensa). São Paulo: É Realizações, 2016.

______. Exercícios espirituais e filosofia antiga. Trad. Flávio Fontenelle Loque, Loraine Oliveira. São Paulo: É Realizações, Coleção Filosofia Atual, 2014.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). (O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro, ______. O livro dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica). Brasília, DF: Feb, 2013. (Q. 903-919 "paixões"; 893-906 “virtudes e vícios”e 920-933 "felicidade").

KING, C. Musonius Rufus: Lectures and Sayings. CreateSpace Independent Publishing Platform, 2011.

LUTZ, C. Musonius Rufus: the Roman Socrates. Yale Classical Studies 10 3-147, 1947.

MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Livro II. 1).

MASSI, C. D. As leis naturais e a verdadeira felicidade. Curitiba: Kardec Books, 2020.


[1] ARRIANO FLÁVIO. As Diatribes de Epicteto. Livro I. 2020. (p. 139)

 

 

 

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