sexta-feira, 14 de junho de 2024

REFLEXÃO MATINAL CLXXII: “REGRAS PARA ORIENTAÇÃO DO ESPÍRITO” (II)

 


"Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer." (CALVINO, 2007, p. 11)

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Prosseguindo com as atividades normais, intenso trabalho e releitura de sempre. Enquanto isso, retomei nos últimos dias leitura que desde a graduação, sempre revisito. É um grande clássico, e ler e reler os clássicos tenho tornado norma por aqui. Nenhum dos meus interesses excluem os clássicos, indispensáveis

Como é o caso desses dois: "Regras Para a Direção do Espírito" e "As paixões da alma", de René Descartes, um dos grandes autores, de quem sempre extraio excertos para reflexões no blog:

Link do Blog pessoal: 

https://marcosfilosofiamoderna.blogspot.com/

Basicamente, resumindo as doze Regras temos o seguinte:

1.     "O objetivo dos nossos estudos deve ser a direção da nossa mente para que ela possa formar julgamentos sólidos e verdadeiros sobre quaisquer assuntos que surjam.

2.     Devemos nos ocupar apenas com aqueles objetos que nossos poderes intelectuais parecem competentes para conhecer de forma segura e indubitável.

3.     No que diz respeito a qualquer assunto que nos propomos investigar, devemos investigar não o que outras pessoas pensaram, ou o que nós mesmos conjecturamos, mas o que podemos perceber clara e manifestamente por intuição ou deduzir com certeza. Pois não há outra maneira de adquirir conhecimento.

4.     É necessário um método para descobrir a verdade.

5.     O método consiste inteiramente na ordem e disposição dos objetos para os quais nossa visão mental deve ser dirigida se quisermos descobrir alguma verdade. Cumpriremos isso exatamente se reduzirmos passo a passo as proposições complicadas e obscuras àquelas que são mais simples e, então, começando pela apreensão intuitiva de todas aquelas que são absolutamente simples, tentarmos ascender ao conhecimento de todas as outras por passos precisamente semelhantes.

6.     Para separar o que é bastante simples do que é complexo, e para organizar estas questões metodicamente, devemos, no caso de cada série em que deduzimos certos factos uns dos outros, notar qual dos factos é simples, e para marcar o intervalo, maior, menor ou igual, que separa todos os outros deste.

7.     Se quisermos que a nossa ciência seja completa, todas as questões que promovem o fim que temos em vista devem ser examinadas por um movimento de pensamento que seja contínuo e em nenhum lugar interrompido; devem também ser incluídos numa enumeração que seja ao mesmo tempo adequada e metódica.

8.     Se, nas questões a serem examinadas, chegarmos a um passo na série cuja compreensão não é suficientemente capaz de ter uma cognição intuitiva, devemos parar brevemente aí. Não devemos fazer nenhuma tentativa de examinar o que se segue; Assim nos pouparemos de trabalho supérfluo.

9.     Deveríamos dar toda a nossa atenção aos fatos mais insignificantes e mais facilmente dominados, e permanecer muito tempo contemplando-os até que estejamos acostumados a contemplar a verdade clara e distintamente.

10. Para que possa adquirir sagacidade, a mente deve ser exercitada em prosseguir apenas aquelas questões cuja solução já foi encontrada por outros; e deveria percorrer de maneira sistemática até mesmo as invenções humanas mais insignificantes, embora devam ser preferidas aquelas em que a ordem é explicada ou implícita.

11. Se, depois de termos reconhecido intuitivamente uma série de verdades simples, desejarmos extrair delas alguma inferência, será útil examiná-las num ato de pensamento contínuo e ininterrupto, para refletir sobre suas relações mútuas e compreender reunir distintamente um número dessas proposições, tanto quanto possível, ao mesmo tempo. Pois esta é uma forma de tornar o nosso conhecimento muito mais certo e de aumentar enormemente o poder da mente.

12. Finalmente, devemos empregar todos os recursos da compreensão, da imaginação, dos sentidos e da memória, primeiro com o propósito de ter uma intuição distinta de proposições simples; em parte também para comparar as proposições."

Os Grifos Destaques são meus.

______.

ARRIANO FLÁVIO. As Diatribes de Epicteto. Livro I. Tradução, introdução e comentário Aldo Dinucci. Universidade Federal de Sergipe. Série Autores Gregos e Latinos Coimbra, Imprensa da universidade de Coimbra, 2020.

CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. Trad. Milton Moulin. São Paulo: Companhia de bolso, 2007.

COELHO, Humberto Schubert. O pensamento crítico: história e método. Juiz de Fora, MG: Editora UFJF, 2022.

DESCARTES, René.  As paixões da alma. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

______. Regras para orientação do espírito. São Paulo: Martins Fontes, 2012.

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

DINUCCI, A. Fragmentos menores de Caio Musônio Rufo; Gaius Musonius Rufus Fragmenta MinoraIn: Trans/Form/Ação. vol.35 n.3 Marília, 2012.

______. Introdução ao Manual de Epicteto. 3. ed. São Cristóvão: EdiUFS, 2012.

______. Epictetus Discourses. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

______. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments: Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

FRANKL, Viktor. O sofrimento humano: Fundamentos antropológicos da psicoterapia. Trad. Bocarro, Karleno e Bittencourt, Renato. Prefácio, Marino, Heloísa Reis. São Paulo: É Realizações, 2019.

______. Em busca de sentido. 25. ed. - São Leopoldo, RS: Sinodal; Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

______. Yes to Life: In spite of everything. Beacon Press, 2020.

______. Um sentido para a vida: psicoterapia e humanismo. Aparecida, SP: Ideias e letras, 2005.

GALENO. Aforismos. São Paulo: E. Unifesp, 2010.

______. On the passions and errors of the soul. Translated by Paul W . Harkins with an introduction and interpretation by Walter Riese. Ohio State University Press, 1963.

GAZOLLA, Rachel.  O ofício do filósofo estóico: o duplo registro do discurso da Stoa, Loyola, São Paulo, 1999.

GIKOVATE, Flávio. Vício dos vícios: um estudo sobre a vaidade humana. São Paulo: MG Editores associados, 1987.

______. O mal, o bem e mais além: egoístas, generosos e justos. São Paulo: MG Editores associados, 2005.

______. Mudar: caminhos para a transformação verdadeira. São Paulo: MG Editores associados, 2014.

_____. Os sentidos da vida. São Paulo: Editora Moderna, 2009.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

______. A filosofia como maneira de viver: entrevistas de Jeannie Carlier e Arnold I. Davidson. (Trad. Lara Christina de Malimpensa). São Paulo: É Realizações, 2016.

______. Exercícios espirituais e filosofia antiga. Trad. Flávio Fontenelle Loque, Loraine Oliveira. São Paulo: É Realizações, Coleção Filosofia Atual, 2014.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). (O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro, ______. O livro dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica). Brasília, DF: Feb, 2013. (Q. 903-919 "paixões"; 893-906 “virtudes e vícios”e 920-933 "felicidade").

KING, C. Musonius Rufus: Lectures and Sayings. CreateSpace Independent Publishing Platform, 2011.

LUTZ, C. Musonius Rufus: the Roman Socrates. Yale Classical Studies 10 3-147, 1947.

MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Livro II. 1).

MASSI, C. D. As leis naturais e a verdadeira felicidade. Curitiba: Kardec Books, 2020.

PEREIRA, Owaldo Porchat. Vida comum e ceticismo. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

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