quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

REFLEXÃO MATINAL XVIII: VERDADEIRA LIBERDADE


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Como sói acontecer nos últimos quatro ou cinco anos, seguem-se os trabalhos, desde lá estabelecidos para reflexão dessa temática, que antes era só reflexão “cínica” e avançou para uma busca mais voltada aos textos estoicos

Algo de muito importante logo pela manhã...

Desde o surgimento da Filosofia, o que se tornou, em grande medida, a tradição filosófica do ocidente na Grécia Antiga, um grupo de pensadores, os “pré-socráticos”, são fundamentais.  A esses, uma certa divisão: por exemplo, os primeiros cosmólogos jônios como Pitágoras, Xenófanes, Heráclito, os eleatas (Parmênides, Melisso, Zenão), Empédocles e Anaxágoras. Outros ainda como os atomistas e os sofistas. Aqui, faço alguns apontamentos, já há algum tempo, sobre uma tradição que remonta a Zenão de Cítio: o estoicismo, destacando autores como o próprio Zenão, Musônius Rufus, Epictetus, Sêneca e Marcus Aurelius. Todos fundamentais na formulação das reflexões estoicas.

Neste sentido é que a reflexão de hoje tem como ponto de partida uma afirmação de Epictetus, sobre o pensador Diógenes Laércio

"Se quiseres que eu te mostre um homem que seja verdadeiramente livre, apresentar-te-ei Diógenes Laércio. Como ele chegou a ser livre? Destruindo em si mesmo tudo quanto o pudesse prender à escravidão; dessa forma, desligado de tudo e, completamente isolado, nada possuindo. Doava tudo o que lhe pedissem, mas estava fortemente unido aos 'deuses' e a ninguém era inferior em obediência, respeito e submissão para com a tal soberania. Eis, nesse aspecto, a sua liberdade".

De minha parte, a partir da referência a Diógenes, quero reforçar aqui, com vistas a levar adiante o aprofundamento da via em direção a uma aplicação diária de elementos estoicos; sempre associando essas reflexões às leituras constantes e mais próximas, lidas e sempre retomadas. Já está bastante claro a mim, a exigência de que destas reflexões sempre resulte em esforço de aplicação na vida diária, como sempre orientavam os estoicos.

Ao tratar de temas mais hodiernos, a partir da leitura destes textos, posso inferir que não se deve desejar, nas lides da vida, ser unicamente detentor de diplomas, de títulos, insígnias ou patentes que nos elevem nesse mundo, dado que são “valores” que desaparecerão ao serem tratados numa perspectiva mais ampla. Dispensável a luta na qual, para superar-se, exija a humilhação dos seus iguais em espécie.

Enfim, são textos de pensadores que recomendam sempre o emprego dos esforços na transformação em homens que verdadeiramente justifiquem essa qualificação: de ser humano! Que se lute por unificar pensamento e ação no caminho da Verdade, da infinita Sabedoria e Bondade. Tudo isso para que possamos dar realidade a uma verdadeira reviravolta nas atitudes e vivências pessoais, abandonando posturas meramente abstratas e impregnadas de desejos vãos, de baixeza moral, que sempre resultam em atitudes hipócritas e descabidas. Nisso consistiria a verdadeira liberdade. Sempre embasadas na Serenidade que devemos buscar constantemente.

Pois, como afirma A. A. Long:


“Freedom has nothing to do with liberty in a social or political sense. The freedom that interests Epictetus is entirely psychological and attitudinal. It is freedom from being constrained or impeded by any external circumstance or emotional reaction." (2007)

"A liberdade não tem nada a ver com a liberdade em um sentido social ou político, a liberdade que interessa a Epictetus é inteiramente psicológica e atitudinal, é a liberdade de ser restringido ou impedido por qualquer circunstância externa ou reação emocional".

Vejamos ainda o que Sêneca escreveu no seu "De tranquillitate animi" (14.2), já postado aqui num dia como esse:

"Vtique animus ab omnibus externis in se reuocandus est: sibi confidat, se gaudeat, sua suspiciat, recedat quantum potest ab alienis et se sibi adplicet, damna non sentiat, etiam aduersa benigne interpretetur".

"Seja como for, a alma deve recolher‐se em si mesma, deixando todas as coisas externas: que ela confie em si, se alegre consigo, estime o que é seu, se aparte o quanto pode do que é alheio, e se dedique a si mesma; que ela não sinta as perdas e interprete com benevolência até mesmo as coisas adversas".

Daí a imperativa necessidade de voltar-se para si e ser livre...

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(Fonte da imagem: 1ZOOM.Me)



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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

(ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).

DESCARTES, René.  As paixões da alma. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

EPICTETO. Entretiens. Livre I. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by ArrianFragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.

LONG, Georg. Discourses of Epictetus with Encheiridion and fragments. Londres: Georg Bell and sons, 1890.

LONG, A. A. How to be free. Princeton. New Jersey:  Princeton University Press, 2018.

______. Epictetus: a stoic and socratic guide to life. New York: Oxford University Press. 2007.

______. (Org.) Primórdios da filosofia grega. São Paulo: Ideias e Letras, 2008..

PLATO. (III). Lysis / Symposium / Górgias. Loeb Classical Library, 1925.

________. Górgias, Protágoras. 3. ed. Trad. Carlos Alberto Nunes. Edição bilíngue; Belém, PA, 2021.

________. Mênon, Eutidemo. 3. ed. Trad. Carlos Alberto Nunes. Edição bilíngue; Belém, PA, 2021.


SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.

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