terça-feira, 6 de julho de 2021

RELENDO UM CONTO DE TCHÉKHOV: "A ENFERMARIA Nº 6"


Ainda, na linha das recomendações de Ítalo Calvino, em seu “Porque ler os clássicos”, foi essa, a leitura da manhã, hoje! Excelente! E, nos últimos dias li alguns deles, sem me descuidar, claro, na medida das forças, prosseguindo a pesquisa principal, mas recorrendo a essas obras de conteúdos profundos, que o interesse perturbado dos dias atuais, as torna tão pouco buscadas. São muito bons textos. Brevíssimos em quantidade, profundos em qualidade e reflexão filosófica.

Ora, pois...

“Em sua vida breve, mas distinta, Anton Tchekhov foi médico, ensaísta de documentários, dramaturgo admirado e humanitário. Ele continua a ser um gigante literário russo do século XIX, cuja prosa continua a oferecer uma visão moral e ressoar com leitores em todo o mundo.

Tchekhov não experimentou nenhum conflito entre arte e ciência ou arte e medicina. Ele acreditava que o conhecimento de um complementava o outro. Tchekhov trouxe conhecimento médico e sensibilidade para sua escrita criativa - ele tinha um conhecimento íntimo do mundo da medicina e das habilidades do médico, e utilizou essa informação em sua abordagem de seus personagens. Sua sensibilidade como especialista em medicina deu uma pungência especial aos personagens de seus médicos. Os médicos em seus contos envolventes demonstram um amplo espectro de comportamento, personalidade e caráter. Na melhor das hipóteses, eles demonstram coragem, altruísmo e ternura, qualidades que estão no cerne da boa prática médica. Na pior das hipóteses, eles exibem insensibilidade e incompetência.

As histórias em Os médicos de Tchekhov são retratos poderosos de médicos em sua vida cotidiana, lutando com seus próprios problemas pessoais e também tentando servir seus pacientes. O quinto volume da aclamada série de literatura e medicina, os médicos de Tchekhov servirá como um texto rico para educadores profissionais de saúde, bem como para leitores em geral.”

...

“In his brief but distinguished life, Anton Tchekhov was a doctor, a documentary essayist, an admired dramatist, and a humanitarian. He remains a nineteenth-century Russian literary giant whose prose continues to offer moral insight and to resonate with readers across the world.

Tchekhov experienced no conflict between art and science or art and medicine. He believed that knowledge of one complemented the other. Tchekhov brought medical knowledge and sensitivity to his creative writing--he had an intimate knowledge of the world of medicine and the skills of doctoring, and he utilized this information in his approach to his characters. His sensibility as a medical insider gave special poignancy to his physician characters. The doctors in his engaging tales demonstrate a wide spectrum of behavior, personality, and character. At their best, they demonstrate courage, altruism, and tenderness, qualities that lie at the heart of good medical practice. At their worst, they display insensitivity and incompetency.

The stories in “Chekhov's Doctors” are powerful portraits of doctors in their everyday lives, struggling with their own personal problems as well as trying to serve their patients. The fifth volume in the acclaimed Literature and Medicine Series, “Chekhov's Doctors” will serve as a rich text for professional health care educators as well as for general readers.”

E, a este "A doctor’s visit", acrescento um outro conto, também de Tchekov, “A enfermaria nº 6”; em que dois homens; um médico e um louco com a mania de perseguição. Ambos perguntam-se sobre o sentido da vida, buscando respostas em suas leituras. O médico, Andrei Efimich, começa a aproximar-se do seu paciente, o louco Ivan Dmitrich.

Um conto, como todos os que Tchèkhov escreveu, de merecida leitura. A Enfermaria n°6 de Anton Tchekhov aborda a vida destes dois homens, o louco com a mania de perseguição e que, por isso, está internado numa unidade hospitalar para doentes mentais, o outro personagem, Andrei Efimich, um médico que trabalha nesse mesmo hospital, onde estabelecem o primeiro contato:

- Por que me tem aqui?

- Porque está doente.

- Sim, estou doente. Mas dezenas e centenas de loucos passeiam em liberdade porque, na sua ignorância, ninguém os distingue das pessoas sãs. Por que razão estes desgraçados e eu temos que estar aqui em nome de todos, como cabeças-de-turco? O senhor, o assistente, o inspetor e toda essa canalha do hospital estão moralmente muito abaixo de nós. Porque havemos de estar encarcerados e não vocês? Onde está a lógica disto?

O médico, através dos diálogos, percebe a inteligência, genuinidade e lucidez deste paciente e começa a visitá-lo com frequência. Visitas estas que lhe concedem uma enorme satisfação e que se tornam em algo de muito precioso. Ele mesmo o comunica ao louco nas seguintes palavras:

- (...) Se você soubesse, amigo, como me aborrecem a loucura geral, a falta de talento, a torpeza, e como me alegra conversar consigo! Você é uma pessoa inteligente e encanta-me a sua conversa.

Também, é bom relembrar, que Machado de Assis, escreveu “O alienista”, tema bem próximo do “Enfermaria n 6” e relacionado a “temas médicos”. 

Leitura imperdível!

______.

ASSIS, Machado. O alienista. Antofagica Editora, 2019.

CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. Trad. Milton Moulin. São Paulo: Companhia de bolso, 2007.

CÓRDAS, Táki Athanássios; BARROS, Daniel Martins de; GONZALEZ, Michele Oliveira. Personagens ou pacientes? 2: mais clássicos da literatura mundial para refletir sobre a natureza humana. Porto Alegre, RS: Artmed, 2019.

GALENO. Aforismos. São Paulo: E. Unifesp, 2010.

______. On the passions and errors of the soul. Translated by Paul W . Harkins with an introduction and interpretation by Walter Riese. Ohio State University Press, 1963.

Hippocrates. Epidemics 1st, 11 [acesso 2014 Abr 15]. Disponível em: http://www.humanehealthcare.com/Article.asp?art_id=806
» http://www.humanehealthcare.com/Article.asp?art_id=806

TCHÉKHOV A. P. Contos. Guerra N, Guerra F, tradutores. Lisboa: Relógio d’Água Editores; 2006. v. 6, p. 261-73.

______. A doctor’s visit. In: Coulehan J, editor. Tchékhov’s doctors: a collection of Tchékhov’s medical tales. Kent: Kent State University Press; 2003. p. 174-82, 2004.

_____. Os males do tabaco. 2. ed. São Paulo: Ateliê, 2001.

______. A enfermaria nº 6. Lebooks Editora, 2018.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

REFLEXÃO MATINAL CLXX: “REVOLUÇÃO” PESSOAL E INTRANSFERÍVEL (II)

  Estudando sempre, mantendo o foco de sempre, acrescentando novos textos às leituras sobre o período “ pré-crítico ” kantiano, destaco aqui...