terça-feira, 11 de outubro de 2022

REFLEXÃO MATINAL CXL: ANTE A "DICOTOMIA DO CONTROLE" PRESERVAR A SERENIDADE E IMPERTURBABILIDADE DA ALMA

(IMAGEM: Carl Friedrich Lessing (German, 1808-1880), "Landscape in the Eifel Mountains" (1834) - Oil on canvas, 110 x 158 cm - Warsaw, Muzeum Narodowe w Warszawie (National Museum).


Diante de tanta bobagem sendo chamada de "filosofia", coloco-me a questão do que esteja sob meu controle, refletindo sempre sobre a "Dicotomia do controle" no (Encheiridion, I:1).

"[I:1] Das coisas existentes, algumas são encargos nossos; outras não. São encargos nossos o juízo, o impulso, o desejo, a repulsa – em suma: tudo quanto seja ação nossa. Não são encargos nossos o corpo, as posses, a reputação, os cargos públicos – em suma: tudo quanto não seja ação nossa."

Ademais, sempre bom também aplicar o "Sustine et Abstine".

Abstenção de tudo o que não seja absolutamente necessário.

Pois, na verdade "Onde então, eu procuro o bem e o mal? Não em eventos incontroláveis, mas em mim, nas escolhas que são minhas." (EPICTETUS)

E, tenho aprendido EstoicaMente que:

"Os estoicos consideravam irracionais as reclamações sobre a temperatura, muita chuva, muito sol ou qualquer outra circunstância natural. Para eles isso fazia tanto sentido quanto discordar da dureza das pedras ou questionar por que os peixes nadam e não voam.

Esse excesso de saúde mental não lhes permitiria sobreviver aos nossos tempos."[1]

Hoje, acrescento de outras leituras, releituras e sempre retomando, essa citação das Meditações:

  • Tudo se transforma; e tu mesmo estás em perpétua mudança e, de certo modo, em perpétua decomposição — e assim o mundo inteiro.
  • É preciso deixar a culpa alheia onde está.
  • O termo de uma ação, o repouso e, por assim dizer, a morte de uma tendência e de uma opinião não são um mal. Pensa agora nos diferentes períodos da vida do homem: a infância, a adolescência, a idade viril, a velhice. Cada uma destas transformações representa uma morte: é terrível? Lembra-te agora da vida que levaste sob a direção de teu avô, depois, de tua mãe, depois, de teu pai; e encontrando muitas outras mudanças, transformações, acabamentos, pergunta a ti mesmo: é terrível? Assim será, e nada mais, o acabamento e o repouso e a transformação da tua vida inteira." (MARCO AURÉLIO. Meditações. IX, 19-21)

Em tudo, acima de tudo, buscar e preservar a Paz e Ἀταραξία - ataraxia.

Por isso, aqui, retornei como disse acima à "dicotomia do controle", no (Encheiridion, I: 1-5)

Acrescentando ainda que:

"Todo acontecimento ocorre de maneira que tua natureza ou o suporte ou não. Se te acontece o que a tua natureza suporta, não te rebeles; suporta-o como a tua natureza pode. Se acontecer o que tua natureza não suporta, não te rebeles, porque tanto mais cedo te há de exaurir. Lembra-te, porém, de que tua natureza suporta tudo que de tua opinião depende tornar suportável e tolerável, bastando imaginares que é de tua conveniência ou de teu dever fazê-lo. (MARCO AURÉLIO. Meditações. Livro X: 3)"

. ' .

______.

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012.

CÍCERO. On Duties. Trad. W. Miller. Harvard: Loeb Classical Library, 1913.

______. On the Nature of the Gods. Academics. Trad. H. Rackham. Harvard: Loeb Classical Library, 1933.

______. De Finibus. Bonorum Et Malorum. Trad. H. Rackham. Harvard: Loeb Classical Library, 1914.

______. Letters to Friends. Volume I: Letters 1-113. Trad. B. Shackleton. Harvard: Loeb Classical Library, 2001

DESCARTES, René.  As paixões da alma. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

DIÓGENES LAÉRCIO. Lives of Eminent Philosophers. vol. I, II.Trad. R. D. Hicks. Harvard: LoebClassical Library, 1925.

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

EPICTETO. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by ArrianFragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard:Loeb Classical Library, 1928.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

______. A filosofia como maneira de viver: entrevistas de Jeannie Carlier e Arnold I. Davidson. (Trad. Lara Christina de Malimpensa). São Paulo: É Realizações, 2016.

______. Exercícios Espirituais e Filosofia Antiga. Trad. Flavio Fontenelle Loque e Loraine Oliveira. Prefácio de Davidson, Arnold. São Paulo: É Realizações, 2014.

HANH, Thich Nhat. Meditação andando: guia para a paz interior. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

______. Silêncio: o poder da quietude em um mundo barulhento. Rio de Janeiro, RJ: Harper Collins, 2018.

MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.



[1] (Postado, há alguns anos, pelo amigo professor Humberto Schubert Coelho). Só adicionei, à época em que publiquei no “facebook”, a imagem que reutilizo aqui.

 


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