domingo, 8 de janeiro de 2023

LEITURAS DE DOMINGO: "SOBRE A FORMA DA FILOSOFIA E SOBRE O EU"

 

Leituras de domingo:


Schelling antecipou muita coisa que alguns acreditam ter descoberto...

...

1. Sobre a forma da filosofia e sobre o eu.

"A natureza foi sabiamente cuidadosa com os olhos humanos ao dispor para que eles alcancem o dia pleno somente depois de passar pelo crepúsculo. Não espanta que nas regiões mais baixas reste ainda um pequeno nevoeiro enquanto as montanhas já brilham sob o sol. Mas o sol não pode faltar quando é chegada a aurora. Fazer surgir esse dia mais belo da ciência está reservado a poucos ― talvez a um único ―, mas que seja permitido ao indivíduo que pressente a chegada do novo dia alegrar-se previamente com ele. Friedrich Schelling, 1795 Sobre a possibilidade de uma forma da filosofia em geral (1794) e Sobre o eu como princípio da filosofia ou sobre o incondicionado no saber humano (1795), os dois textos traduzidos neste volume, são as credenciais com que se apresenta ao mundo filosófico alemão o jovem Friedrich Wilhelm Joseph Schelling. Então ainda estudante de teologia no Seminário em Tübingen. A Alemanha vivia uma verdadeira febre filosófica: não fazia muito tempo que Friedrich Heinrich Jacobi provocara celeuma com a publicação de suas Cartas ao senhor Moses Mendelssohn sobre a doutrina de Espinosa (1785) e que Kant dera a lume suas três obras principais (Crítica da razão pura, cuja segunda edição é de 1787, Crítica da razão prática, em 1788, e Crítica do juízo, em 1790). Figuras importantes como Salomon Maimon, Schulze e Reinhold davam também sua contribuição para a discussão sobre a viabilidade da filosofia kantiana. Em 1794, Fichte publica duas obras destinadas a levar a perspectiva transcendental a uma radicalidade inimaginada pelo próprio Kant: Sobre o conceito da doutrina-da-ciência ou da assim chamada filosofia e Fundação de toda a doutrina-da-ciência. Os dois escritos de Schelling mostram o quão sintonizado ele estava com todas essas discussões: o principal problema da filosofia kantiana é a ausência de um princípio que unifique todo o saber, o que abriu flanco às objeções céticas sobre sua sustentabilidade e às tentativas de restabelecê-la sobre novos fundamentos, propostas por Reinhold e Fichte. A discussão sobre onde se encontra o princípio filosófico que está na base de todas as ciências é complexa, visto que um dos resultados mais importantes da própria crítica kantiana está em mostrar que este princípio já não pode ser uma proposição ou tese fundamental da qual decorram todas as outras proposições, como acontecia na metafísica dogmática. É preciso, portanto, discutir a fundo o que é a forma da filosofia, capaz de expor o princípio do saber humano. Essa forma está ligada ao deslocamento da filosofia teórica à filosofia prática ou à tentativa de expor o Absoluto não mais como algo do qual se parte, mas como algo que deve ser conquistado pela ação livre de cada sujeito. Essas duas questões ― como a filosofia pode ser exposta e o significado da liberdade humana ― permanecerão no horizonte do pensamento schellingiano, recebendo inflexões diferentes em seu longevo percurso. Mas nesses dois textos de juventude elas já são tratadas com frescor e vigor. Márcio Suzuki"

2. The Dark Ground of Spirit.

“O livro, S. J. McGrath não apenas torna as ideias de Schelling acessíveis ao público em geral, como também revela o papel seminal do filósofo romântico como criador de um conceito que moldou e definiu a psicologia do final do século XIX e início do século XX: o conceito de inconsciente.

McGrath mostra como o inconsciente funcionava originalmente na filosofia de Schelling como uma ponte entre a natureza e o espírito. Antes de Freud revisar o conceito para adequá-lo à sua psicopatologia, o inconsciente era entendido em grande parte segundo as linhas de Schelling, principalmente como uma fonte de poder criativo. O esforço de toda a vida de Schelling para entender formas intuitivas e não reflexivas de inteligência na natureza, na humanidade e no divino foi revitalizado por junguianos, bem como por psicólogos arquetípicos e transpessoais. Com o novo interesse pelo inconsciente hoje, as ideias de Schelling nunca foram tão relevantes.

The Dark Ground of Spirit será, portanto, leitura essencial para aqueles envolvidos em psicanálise, psicologia analítica e filosofia, bem como qualquer pessoa interessada na história das ideias."

______.

FFYTCHE, Matt. The foundation of the unconscious: Schelling, Freud and the birth of the modern psyche. Cambridge University Press, 2011.

______. As origens do inconsciente: o nascimento da psique moderna. Cultrix; 1. ed., 2014.

McGRATH, S. J. The dark ground of spirit: Schelling and the unconscious.  Routledge; Illustrated edição, 2012.

SCHELLING, F. W. J. Investigações Filosóficas sobre a essência da liberdade humana: e os assuntos com ela relacionados. Edições 70, 2018.

______. Sobre a forma da filosofia e sobre o eu. São Paulo: Iluminuras, 2021


BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

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