domingo, 21 de maio de 2023

MEDITAÇÃO RETROSPECTIVA NOTURNA CLII: "TEXTOS FILOSÓFICOS" DE CÍCERO


“Torna meu pensamento capaz de se adaptar seja ao que for que venha a acontecer” 
(EPICTETO, Diatribes, II, 2, 21)

Antes de começar a pensar, ressalte-se que "adaptar-me" aqui não é sinônimo de conivência com absurdos, como se há de perceber abaixo.

Li, certa vez, não me lembro onde, algo sobre a Filosofia estoica ser uma doutrina da coerência consigo mesmo. A Razão perfeita que eles buscam ou defendem é a mesma para pensar a comunidade dos humanos Seria a Razão a que rege o “mundo dos homens”, da mesma maneira, a que rege o homem considerado individualmente.

Nessa maneira de ver as coisas, em que o homem procura seu local of control, sua “inner citadel, está o cerne da razão mesma. 
Inegável que todo o homem tem um conhecimento natural de realidade essencial, sente a aspiração pelo Bem, felicidade e a paz de espírito.

É comum a todo homem o esforço na busca do Bem e em evitar o mal. 

À medida que estudo as obras dos estoicos, sobre os quais anoto aqui nessa página os resultados de pesquisa, fica claro para mim que há no interior do ser humano, aquilo que levou Piere Hadot a chamar de “cidadela interior”, que sempre destaco como “local of control” e “coração” do homem. Onde está seu "coração" aí estará o homem. Portanto, é necessário aferirmos nossas escolhas (proaíresis - προαίρεσις).

Ademais:

A toda a hora sinto a falta daquela sabedoria que caracterizava os nossos tão regrados maiores, pois muito embora dessem o nome de bens a essas inconstantes e frágeis dádivas da fortuna, na prática como na teoria mostravam bem que não as consideravam como tal. Acaso um bem poderá causar mal a alguém? Poderá um homem viver rodeado de bens e ele próprio não ser um homem de bem? Sucede é que todos estes bens são de uma natureza tal que sobejam para os desonestos e são até prejudiciais para a gente de bem.

Assim sendo, pode troçar de mim quem quiser, porque eu dou mais peso à justa razão do que à opinião corrente [...].

Às coisas a que costumamos chamar bens e que não passam de brinquedos da fortuna, a essas nem sequer chamava suas. Perguntará alguém: "O que é então um bem?" Se se define "agir bem" como "agir com rectidão, com honestidade, de acordo com a virtude", então entendo que somente é um bem aquilo que fizermos com rectidão, com honestidade, de acordo com a virtude.”

Prossigo lendo, nas pausas das leituras obrigatórias, essa obra de Cícero. Há muito tempo era um projeto a ser realizado. Excelentetes textos.

______.

BICALHO, Vanessa Brun. Ciência e sabedoria de vida na filosofia transcendental de Kant à luz do estoicismo. Tese de Doutorado (Campus de Toledo). Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste, 2021.

BUTLER, J; CLARKE, S; HUTCHESON, F; MANDEVILLE, B; SHAFTESBURY, L; WOLLASTON, W. Filosofia moral britânica: Textos do Século XVIII. Campinas, SP: Ed. Unicamp, 2014.

CÍCERO, Marco Túlio. Textos filosóficos.  Tradução do latim, introdução e notas de J. A. Segurado e Campos. 2. ed. Lisboa:  Fundação Calouste Gulbenkian, 2018. (PARADOXO 1 - O único verdadeiro bem é o bem moral, pp. 7-8).

______. De finibus bonorum et malorum / Über die Ziele des menschlichen Handelns. Edição e tradução: Olof Gigon. München/Zürich: Ártemis, 1988.

CUNHA, Bruno. A gênese da ética em Kant. São Paulo: Editora LiberArs, 2017.

GRAPOTTE, Sophie (Org.); LEQUAN, Mai; RUFFING, Margit. Kant et les sciences: un dialogue philosophique avec la pluralité des savoirs. Paris: Vrin, 2011.

______; PRUNE-BRETINNET. Tinca, (dir.). Kant et Wolff: héritages et ruptures. Paris: Vrin, 2011.

______. RUFFING, Margit; TERRA, Ricardo.(dir.).  Kant - la raison pratique: concepts et héritages. Paris: Vrin, 2015.

KANT, I. Crítica da razão prática. Edição bilíngüe. Tradução Valerio Rohden. São Paulo: Martins Fontes. 2003.

______. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Discurso editoria: Barcarola, 2009.

_______. Crítica da razão pura. Tradução Valerio Rohden e Udo Moosburguer. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural 1983.

______. A religião nos limites da simples razão. Edições 70, Lisboa, 1992.

_______. Reflexionen zur MoralphilosophieIn: KANT, Immanuel. Kants Werke, Ed. Königlich Preussischen Akademie der Wissenschaften, Berlin, Georg Reimer, <Akademie Text-Ausgabe, Berlin,Walter de Gruyter & Co.>, vol. XIX, 1902.

_______. Dissertação de 1770. Trad. Leonel R. Santos. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda 1985.

_______. Crítica da faculdade do juízo. Trad.Valerio Rohden e António Marques. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1993.

_______. Werkausgabe (ed.Wilhelm Weischedel). Frankfurt am Main: Suhrkamp, vol 8 (Die Metaphysik der Sitten). 1977.

______. Lições de ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Fedhaus. São Paulo: Editora Unesp, 2018.

______. Lições sobre a doutrina filosófica da religião. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.

______. Lições de metafísica. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Vozes, 2021.

______. Réflexions métaphysiques (1780-1789). Introduction, traduction et notes par Sophie Grapotte, Docteur de l’Université de Bourgogne, membre du « Groupe de travail sur la philosophie allemande du XVIIIe siècle » (CERPHI). Paris: Vrin, 2011.

 ______. Textos pré-críticos. São Paulo: Editora Unesp, 2005.

______. Textos seletos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

______. Investigação sobre a clareza dos princípios da teologia e da moral. Lisboa: Imprensa Casa da Moeda, 2007.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). (O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica). Brasília, DF: Feb, 2013. (Q. 907-912: "paixões"; 893-906: “virtudes e vícios” e 920-933: "felicidade")

LEIBNIZ. G. W. Novos ensaios sobre o entendimento humano. Lisboa: Edições Colibri, 1993.

______. Ensaios de teodicéia. São Paulo: Estação Liberdade, 2013.

______; WOLFF, C; EULER, L.P; BUFFON, G.-L; LAMBERT, J. H; KANT, I. Espaço e pensamento: textos escolhidos. Organização de Márcio Suzuki (Org.). Tradução de Márcio Suzuki e Outros. São Paulo: Editora Clandestina, 2019. 286.

LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento humano. São Paulo: Martins Fontes, 2012. 

PHILONENKO, Alexis. L'Oeuvre de Kant: la philosophie critique. Tome I. J. Paris: Vrin, 1996. (col. Bibliothèque d'histoire de la philosophie)

RATEAU, Paul, author. Leibniz on the problem of evil. New York: Oxford University Press, 2019.

SCHMUCKER. Josef. Die Ursprünge der Ethik Kants in seinen vorkritischen Schriften und Reflektionen. Meisenheim: A. Hain, 1961.

THEIS, Robert (dir.). Théologie et religion. Paris: Vrin, 2013.

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário

REFLEXÃO MATINAL CLXIX; SAÚDE, PSICOTERAPIA E EXISTENCIALISMO SEGUNDO VIKTOR FRANKL

  Sobre o  Bom   Existencialismo: Mais uma das boas, necessárias e fundamentas reflexões que faço sobre as consequências que devem ser pensa...