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"Vtique animus ab omnibus
externis in se reuocandus est: sibi confidat, se gaudeat, sua suspiciat,
recedat quantum potest ab alienis et se sibi adplicet, damna non sentiat, etiam
aduersa benigne interpretetur".
Reli, agora pela manhã,
antes de dar início às atividades normais e, claro, durante o café: o texto de
Sêneca: “Sobre a tranquilidade da alma”.
Escrito como um meio de
orientação aos que aspiram dedicar-se ao aperfeiçoamento moral pessoal; dirigido
ao seu amigo Aneu Sereno, a quem antes já tinha escrito o texto que é
conhecido como “Sobre a constância do sábio”.
Foi um grande amigo de Sêneca, pertencente à ordem equestre, formada pelos
cidadãos mais abastados.
Sêneca escreve o texto
com o objetivo de apresentar a doutrina estóica,
sabendo que Sereno era adepto do epicurismo.
Faz uma apresentação detalhada do que se pode obter do estudo de tal doutrina
para a vida prática.
O que resulta dessa
apresentação de Sêneca, para mim, que a publico aqui, é ter constatado elementos
que tem a força de nos auxiliar nos empreendimentos de superação dos “tormentos”
e dificuldades que possam nos atingir: os temores; os desejos humanos e, acima
de tudo, como nos exercitarmos na direção da tranquilidade da alma, esse estado
ideal de serenidade proposto e buscado pelos estoicos; que precisa vivenciá-lo de
forma integral.
Um dos passos indicados
na obra:
"Seja
como for, a alma deve recolher‐se em si mesma, deixando todas as coisas
externas: que ela confie em si, se alegre consigo, estime o que é seu, se
aparte o quanto pode do que é alheio, e se dedique a si mesma; que ela não
sinta as perdas e interprete com benevolência até mesmo as coisas
adversas".
E, também, diante das
dificuldades, nas ocasiões em que a tranquilidade da alma esteja
ameaçada, ou:
"Sempre
que queiras saber qual a atitude a evitar ou a assumir, regula-te pelo bem
supremo, pelo objetivo de toda a tua vida. Todas as nossas ações devem
conformar-se com o bem supremo: somente é capaz de determinar as ações individuais
o homem que possui a noção do objetivo supremo da vida". (SÉNECA,
Livro VIII - "Carta 71";(2))
E, no texto sobre o qual
refleti, pela manhã, Sereno, diz a Sêneca alguns dos problemas com os quais tem
dificuldade em lidar:
- hesitação diante do desejo de bens e de prazeres corporais.
- alternância entre desejo de atuação social e de recolhimento aos estudos.
- dilema ético e estético relativo a busca pela fama.
Daí, em seguida pede que
lhe seja dado um diagnóstico e um “remédio”:
“Rogo,
então, se tem algum remédio que possa deter esta minha vacilação e me faça
digno de lhe dever a paz de espírito”.
Ao que Sêneca, ao longo
do texto, compreende que ele esteja buscando, na verdade, o que se pode tomar
como uma das mais importantes conquistas do homem, para a Vida, um estado de tranquilidade
(tranquillitas);
que entre os gregos era chamada de de euthymía (II,3). Como vemos no texto,
segue o que dá início aos conselhos de Sêneca, definindo antes, a tranquilidade
da alma:
“O que buscamos, então, é
como a alma pode sempre seguir um rumo firme, sem percalços, pode estar
satisfeita consigo mesma e olhar com prazer para o que a rodeia, e não
experimentar nenhuma interrupção dessa alegria, mas permanecer em uma condição
pacífica, sem nunca estar eufórica ou deprimida: isso será ‘tranquilidade’.” (II,4)
Disso parte para as
recomendações:
A de que a maioria dos
homens sofrem de inconstância, mudam insistentemente de objetivos e vivem a
reclamar do que desistiram. Isso gera, de certa forma: “ansiedade”. Noutros
casos, não se trata de inconstância, mas de um certo “comodismo” em permanecer
em situação que lhes causa infelicidade, mas “continuam a viver não da maneira que desejam, mas da maneira que
começaram a viver.“ (II,6). E, mais: há caso, também dos que creem que a
maneira de vencer a modorrenta vida de marasmo é “viajar”, o que mais tarde se
constata que se viajou levando os problemas e se retorna com eles: “Assim, cada um sempre foge de si mesmo”
(II,14).
Conclusão de Sêneca: os
nossos problemas não estão no lugar em que vivemos, na condição em que vivemos;
eles estão em nós.
E, desafia: “Por quanto tempo vamos continuar fazendo a
mesma coisa? (II,15).
Então, a partir do cap. III, começa uma lista de conselhos
para busca da tranquilidade da alma.
De Atenodoro, teria vindo o primeiro, que diz: “O melhor é ocupar-se dos negócios, da gestão dos assuntos do Estado e
dos deveres de um cidadão”. Ou seja, bom é exercitar-se em algum tipo atividade
e fazer sempre o Bem. Recomenda ainda a filosofia, isso trará ao interessado
uma certa dose satisfação e, resultará em tranquilidade da alma. E, no mínimo
fará com que iniciemos uma vida diferente da maioria. Um bom começo!
Encerrando, por hoje, no capítulo IX, Sêneca faz uma crítica bem
interessante, mas, que só retomarei num outro momento como este, desta manhã; ele
critica os homens que compram livros e não os estudam. Assim, acrescento,
meditar, exercitar-se e não adotar isso como processo de transformação das
nossas vidas, de nada vale. Fundamental que utilizemos isso tudo em nos
tornarmos melhores, apesar dos pesares!
SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbekian, 2014.
______. Da tranquilidade da alma. (precedido
de "Da vida retirada", seguido
de "Da felicidade". Porto
Alegre, RS: L&PM, 2009.
______. Sobre a tranqüilidade da alma (a). Sobre o ócio. (b). São Paulo: Nova
Alexandria, 1994.
______. A tranqüilidade da alma (a). A vida retirada (b). São Paulo: Escala, 2000.
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