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Independenteme das circuntâncias externas, para Epicteto, a verdadeira Liberdade está em controlar nossas ações e reações.
"A multidão mais grosseira considera que o bem e a felicidade é o prazer, e consequentemente adoram uma vida de gratificação […] Assim, parecem completamente escravizados, dado escolherem uma vida que pertence aos ruminantes. Mas têm realmente um argumento em sua defensa, dado que muitos dos poderosos […] têm a mesma convicção. (ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 1095b; 16-23)"
I. Proposta: alguns passos a serem seguidos, considerando a meta de um prokppton
Das minhas leituras e releituras, tenho extraído, entre outras a seguinte recomendação: primeiro, um exercício de distanciamento, para longe de propostas “mercadológicas” de sucesso rápido, é o passo inicial. Segundo, a dedicação e atenção (prosoché - προσοχῆς) ao tempo e disposição para uma reviravolta e “olharmos para dentro”, para um autoconhecimento.
É aqui, juntando às reflexões de uma “filosofia de vida” adotada ainda na adolescência, que passei a estudar a obra dos estoicos, apresentada a mim, como mera autoajuda, equívoco que com o tempo vou corrigindo. Ora, se for mera “autoajuda”, temos uma autoajuda de uma qualidade imprescindível, exatamente por apresentar uma proposta de “olhar para dentro, de autoconhecimento” e que necessariamente, não pagamos para alcançá-la.
Assim, diz Musônio Rufo a alguém que se sentia cansado e derrotado:
“Por que estás parado? Pelo que esperas? Que o próprio Deus, estando ao teu lado, dirija-te a palavra? Corta a parte morta da tua alma, e conhecerás Deus”.
A consequência deste "despertar", lido em Epicteto, é aquele primeiro passo dito acima.
Portanto:
Ser estoico, afinal, o que é? Do mesmo modo que chamamos “fidíaca” a estátua modelada segundo a arte de Fídias, mostrai-me igualmente um ser humano enfermo e feliz, em perigo e feliz, desprestigiado e feliz. Mostrai-me. Pelos deuses! Desejo ver um estoico. (EPICTETO. D. 2.19.23-27).
Talvez, não ser um estoico, sabido que já tenho uma “filosofia de vida” bem definida a orientar-me, como também disse acima, mas revisitar as obras clássicas, é o desafio posto e mantido. Não dá para aceitar nem cogitar minimamente, as estapafúrdias propostas hodiernas.
II. Assim, nesse “projeto” revisito as “Quatro virtudes” no mundo clássico “antigo”:
“The Four Virtues of the Classical world. Very little is needed in order to raise good human communities. But this 'very little' is indispensable.
As Quatro Virtudes do mundo clássico. Muito pouco é preciso para criar boas comunidades humanas. Mas este 'muito pouco' é indispensável.
Четыре добродетели классического мира. Совсем немного требуется, чтобы воспитать хорошие общества. Но без этого «немного» не обойтись.”
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Credit: Michel Daw for the image.
phronêsis (prudência / sabedoria prática): O conhecimento de saber o que é bom e o que é mau. Tomar decisões lógicas sobre o que devemos ou não fazer com base em nosso conhecimento e experiência.
sôphrosunê (temperança / moderação): Refere-se à moderação em todos os aspectos da vida. Não levando uma vida de excessos, tendo controle sobre nossos impulsos, emoções (boas e más), e favorecendo uma meta de felicidade e contentamento de longo prazo em vez de prazeres de curto prazo.
andreia (fortaleza / coragem): Coragem é decidir como agir em tempos de provação. Apesar do que muitos pensam, não é a ausência de ansiedades e medos, mas sim a forma como alguém age apesar da ansiedade e do medo. A resiliência diante da adversidade.
dikaiosunê (justiça / moralidade): O ato de fazer o que é certo e justo - e mantê-lo sempre, principalmente nos momentos difíceis. Essa ideia de justiça é fazer o que é certo em sua comunidade e como agimos em relação aos outros de acordo com a lei. Do ponto de vista estóico, a justiça é um dever para com os outros ao nosso redor e deve orientar as decisões, especialmente em tempos tumultuados.
III. A “metanoia”
Aqui, segundo os estoicos e que refletimos essa manhã, em conjunto com técnicas de TCC, é necessária uma mudança no modo de olhar o mundo e nas ações, uma conversão: uma metanoia.
E, o caminho é reeducarmo-nos na busca do Bem que está ao alcance de cada um, para que, daí descubra que o que lhe sucede não é necessariamente um mal a paralisá-lo. Haverá o que lhe foge ao controle, a “Dicotomia do controle”, como lemos em (Epicteto. Encherídion, I, 1). Isso é o que se exige de cada um: e por isso, o esforço, prática e “exercício” no que está sob seu controle: o interior. Esse o trabalho imediato. O que é exterior está para além do nosso controle.
Só assim volveremos às bases mais sólidas para reformulação do nosso comportamento e, como consequência, qualificaremos nossos hábitos. Sempre atento e vigilante, o prokopton sabe o que quer fazer a cada instante e, compreende o que está sob seu controle e o que não está. Viverá, assim, sua vida: tranquilamente.
Uma boa reflexão a ser feita mais vezes...
Duas coisas, portanto, muito prezadas por aqui: a Liberdade e busca constante por Virtudes visando a “cura das paixões”.
A Liberdade a que me atenho:
"A liberdade não tem nada a ver com a liberdade em um sentido social ou político, a liberdade que interessa a Epictetus é inteiramente psicológica e atitudinal, é a liberdade de ser restringido ou impedido por qualquer circunstância externa ou reação emocional". (LONG)
E, o grande projeto existencial:
“As virtudes da coragem e da moderação melhoram nosso caráter e nossas vidas de modo geral quando são praticadas com sabedoria, enquanto a maioria das coisas que almejamos nos proporciona apenas prazer passageiro” (Robertson, 2020, p.148)
Pois:
“O que caracteriza um estudo sério é a continuidade que se lhe dá.”[1] (KARDEC, 2013) E, para isso é fundamental nos estudos “a continuidade, a regularidade e o recolhimento[2]”.
Desafio a enfrentar... ou, continuar ...
...
(Grifos e Destaques são meus)
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